terça-feira, 11 de outubro de 2011

São Bento Biscop


Nasceu em 628 em  Northumbria, Inglaterra como Benet Biscop, da nobreza Anglo-saxônica, cresceu na corte do Rei Oswy de Northumbria e ocupou postos oficiais no reino.Seguindo a uma peregrinação a Roma ele renunciou a sua fortuna e posição e dedicou aos estudos das escrituras e as orações. Foi monge no Monastério de São Honorato perto de Canes, França em 666 tomando o nome de Benedito (no Brasil Bento) e ali ficou por dois anos observando estritamente as rígidas regras da Ordem.
A sua terceira peregrinação a Roma em 69 coincidiu com a visita do Arcebispo eleito Wuighart de Canterbury que veio a falecer logo após a sua consagração. Teodoro foi selecionado para ser o novo Arcebispo de Canterbury e o Papa Vitalian ordenou que Biscop acompanhasse Teododo e São Adriano a Inglaterra como missionários. São Bento viajou entre a Inglaterra e Roma retornando sempre com livros e trazendo também mão de obra especializada para construir e enriquecer as igrejas da Grã-bretanha. Sua quarta jornada foi feita com vistas em se aperfeiçoar nas Regras Beneditinas e praticar uma vida monástica e quando ele ficava em Roma e visitava vários outros monastérios da Ordem.

Em 674 ele foi agraciado com vários acres de terra do filho de Oswy, Egfrid na foz do rio Wear em Wearmouth onde ele construiu uma grande igreja de pedra e um Monastério dedicado a São Pedro.
Ele foi o primeiro a introduzir janelas de vidro na Inglaterra, que ele trouxe da França junto com pedras e outros materiais. Seus pedreiros, vidraceiros e carpinteiros ensinaram suas especialidades aos Anglo-saxões. Ele não mediu esforços no sentido de buscar o melhor e o mais belo para embelezar a sua igreja em Wearmouth.
Da viajem em Roma em 679 ele trouxe o Abade John de Sanmartin, o cantor da Basílica de São Pedro em Roma.Para isso ele persuadiu o Papa Agatho que o Abade John instruiria os monges ingleses de modo que as músicas e as cerimônias em Wearmouth seguissem o modelo romano.
Depois de seu retorno a Roma John treinou sua classe no uso e na pratica da musica religiosa, liturgia hinos e cânticos. John também ensinou aos monges ler e escrever manuscritos e escreveu várias instruções litúrgicas romanas para eles.
Biscop principalmente trouxe muitos livros como um colecionar apaixonado, e os traduzia para língua inglesa. Ele desejava construir uma grande livraria no Monastério de Wearmouth. Ele também importou quadros e pinturas de Roma e de Viena bem como imagens coloridas e músicas.Entre os tesouros importados de Roma havia uma serie de pinturas das cenas dos Evangelhos, de Nossa Senhora dos Apóstolos, dos incidentes descritos no Livro das Revelações, tudo isto para ser colocado em sua igreja, um privilegio que assegurou a Wearmouth uma especial proteção da Santa Sé.
Bento também fez sua regra baseada na Regra de São Benedito, aperfeiçoando-a e com as dos 17 monastérios que havia visitado.Sem dúvida ele organizou um "escritorium" no qual foi escrito o manuscrito da Bíblia para o seu sucessor como Prior em Wearmouth que recebeu em 716 de presente do Papa Gregório II.
O livro foi identificado e certificado na Biblioteca Laurenciana em Florença em 1887, o famoso "Codex Amiantinus". Isto enriqueceu em muito a Igreja Inglesa. 
Por causa de seu monastério e sua igreja em Wearmouth, em 682 Egfrid deu a ele mais 400 agres de terra desta vez no rio Tyne. Ali ele construiu um segundo monastério a oito kilometros do Monasterio de São Pedro, e dedicado a São Paulo (hoje chamado Jarrow). Terminado em 685 ele se tornou um grande centro de ensino no Ocidente e o lar do Venerável Bede.
Por que São Bento estava sempre muito ocupado com seus afazeres ele delegava um pouco de sua autoridade. Em primeiro lugar, ele levou para ajudá-lo o seu sobrinho e em Jarrow ele colocou Ceofrid como encarregado. Enquanto Bento chefiava os mosteiros ele fez desses monges uma espécie de sub abades, na direção de duas fundações de modo que os monastérios não ficavam sem liderança durante sua ausência. Este procedimento foi copiado por muitos e é muito utilizado hoje em dia.  
Bento fez sua ultima viagem a Roma em 685 retornando com muito livros, imagens sacras e sedas para roupas finas as quais ele trocou na corte, por mais terras para seus monastérios.
Devido a São Bento é que muito material pode ser estudado por Bede e outros escolares e um sólido alicerce foi erigido para a gloria da Igreja Inglesa. Após sua morte só em Jarrow 600 escolares estudavam os livros, sem contar as centenas de visitantes. É também graças a ele que a Igreja de Northumbia passou do rito Céltico ao rito Romano.
No final de sua vida ele sofreu uma dolorosa paralisia de seus membros inferiores, mas durante os anos de seu confinamento em sua cama ele continuou seus trabalhos de traduzir varias obras importantes, antes de falecer aos 62 anos de idade no dia 12 de janeiro de 690.

Alguns historiadores insistem que a civilização aprendeu muito no século 18, graças aos monasterios fundado por São Bento Briscop.
A prova do culto bem cedo a São Bento Biscop vem de um sermão de Bede sobre ele (Homilia 17) para a sua festa, mas o culto tornou-se mais difundido quando do traslado de suas relíquias em 980.
As relíquias de São Bento Biscop estão atualmente a Abadia de Thorney, embora Glastonbury tambem insise que as possui.
Na arte litúrgica São Bento Biscop é mostrado como um abade em vestimentas episcopais com dois monastérios ao seu lado. As vezes ele é mostrado com o venerável Bede. Ele é o patrono dos beneditinos ingleses, pintores e músicos.
Sua festa é celebrada no dia 12 de janeiro.

Santa Amélia

Amélia viveu no século IV e seu nome tem uma origem incerta. Pode ter vindo do germânico Amelberga, que significa amiga protetora; ou derivar do grego Amalh (amále), cujo sinônimo é terna, delicada, sensível. E se nos deixarmos levar apenas pelo som do nome, veremos nos remete ao amor.

Amélia pertence a um numeroso grupo de mártires cristãos, que são fervorosamente lembrados pela Igreja. De sua vida não se sabe praticamente nada. Ela morreu no dia 5 de janeiro na cidade de Gerona, na Catalunha, Espanha.

Esta notícia foi trazida para a tradição católica, de um antigo Breviário de Gerona que possibilitou sua localização no período entre os anos de 243 a 313, do governo do imperador romano Diocleciano, que patrocinou a implacável perseguição aos cristãos.

Em 1336, o bispo de Gerona, descobriu as relíquias mortais dos mártires e dedicou à eles um altar na catedral da cidade. Depois através dos séculos estes mártires, elencados naquela longa lista conhecida como Martirológio Geronimiano, passaram a ser celebrados em vários grupos e em datas diferentes.

Isto porque, de alguns deles, além do referido Martirológio, outros documentos e as inscrições das lápides, revelaram o nome e mais alguma informação. Ao que parece todos seriam africanos, mas também não se tem certeza. A exceção de São Paolino e Sicio, com festa no dia 31 de maio, que eram antíoques.

Assim, o nome de Santa Amélia, nos reporta em todos os sentidos ao amor. Ela serve de exemplo para todos os peregrinos que procuram a igreja da catedral de Gerona, para reverenciar sua memória, agradecendo as graças alcançadas por sua intercessão. Aos devotos, ela lembra que na vocação cristã o martírio aparece como uma possibilidade pré anunciada na Revelação, que nunca deve ser esquecida durante a própria vida.

O mártir, sem dúvida, é o sinal daquele amor maior que contém em si todos os outros valores. A sua existência reflete a palavra suprema, pronunciada por Cristo na cruz: "Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem" (Lc 23, 34).

O culto litúrgico à Santa Amélia, no dia 5 de janeiro, foi mantido como indica o Martirológio. Ela que com o seu testemunho mostrou o que é o verdadeiro amor cristão, pois anunciou o Evangelho, dando a vida por amor.

São Francisco de Sales; Bispo, Doutor da Igreja


Príncipe de Genebra - Padroeiro dos jornalistas Católicos
Fundador da Congregação da Visitação
(21/08/1567 - 28/12/1622)
Francisco de Sales, tão conhecido e tão amado de todos, nasceu em 21 de agosto de 1567, no castelo de Sales, a três léguas de Annecy. Teve por pai Francisco conde de Sales, e por mãe Francisca de Sionas ambos de ilustre nascimento, mas muito menos recomendáveis pela nobreza do sangue do que pela piedade que professavam. Desde os primeiros meses de gravidez, a condessa de Sales ofereceu ao Senhor a criança que trazia, rogando-lhe, com os sentimentos da mais terna devoção, que a preservasse da corrupção do século e a privasse, antes, do prazer de se ver mãe a permitir que desse à luz uma criança bastante infeliz para tornar-se, um dia, seu inimigo pelo pecado.

"Nasceu Francisco ao cabo de sete meses, apesar das precauções tomadas pela mãe, o que fez com que nos primeiros anos fosse extremamente fraco. Houve muito trabalho para criá-lo, e várias vezes desesperaram os médicos de salvar-lhe a vida. Escapou, entretanto, aos perigos

Da infância e tornou-se grande e robusto. Descobriu-se nele, à medida que as feições se lhe iam formando, um; uma beleza e um encanto que não permitiam que se visse, sem amá-lo. Ao exterior tão vantajoso, unia uma natureza excelente uma grande penetração de espírito, uma rara modéstia, uma singular doçura e absoluta submissão aos pais e mestres.

A condessa, cuidadosa em afastar do filho tudo quanto tivesse até a aparência do vício, não o perdia um instante de vista. Levava-o à igreja e inspirava-lhe um profundo respeito pela casa de Deus e por todas as coisas da religião; lia-lhe a vida dos santos e aliava a tal leitura reflexões. Quis, até, que a acompanhasse quando visitava os pobres, que lhes prestasse os pequenos serviços de que era capaz e distribuísse esmolas. O menino correspondeu perfeitamente aos cuidados tomados pela virtuosa mãe para formá-lo aos exercícios da piedade cristã. Fazia as orações com um recolhimento e uma devoção que não eram próprios da sua idade. Amava ternamente os pobres, e quando já não tinha o que lhes dar, solicitava em favor deles a liberalidade de todos os parentes; poupava uma parte da nutrição para melhor assistir a eles. Tinha a sua sinceridade alguma coisa de extraordinário; todas às vezes, em que lhe acontecia tombar nos erros costumeiros dos meninos, preferia ser castigado a evitar o castigo por uma mentira. A condessa de Sales, conhecedora dos perigos tão comuns nas escolas públicas, pretendia que a elas não fosse enviado o filho, e que, pelo contrário, se contratassem mestres capazes, de lhe ensinar as letras humanas; mas o conde, sabendo que a emulação não contribuiu pouco para o progresso dos meninos nas ciências divergiu, e persuadiu-a de que Deus conservaria disposições de que era autor. O jovem conde, que ainda não contava seis anos, foi enviado ao colégio da Roche, de onde se transferiu, em seguida, para o de Annecy. Os progressos distinguiram-no, em breve, dos coetâneos. Unia a maior aplicação a uma excelente memória, viva concepção, sólido julgamento; as lições dos mestres não bastavam para ocupá-lo, e ele as completava com outros exercícios adequados a lhe ampliar os conhecimentos; mas o seu amor ao estudo não prejudicava os deveres da piedade. Na distribuição dos momentos, sabia arranjar intervalos para nutrir o coração com a leitura de bons livros, sobretudo com a da vida dos santos. Disposições tão raras num menino fizeram com que o conde de Sales julgasse perder o filho o tempo em Annecy; resolveu, pois, em 1578, mandá-lo a Paris para lá terminar os estudos. Tinha então Francisco onze anos.

A condessa, que ia perder o filho por longo tempo, redobrou de zelo para firmá-lo na virtude. Recomendava-lhe, sobretudo o amor de Deus e da prece, a fuga do pecado e das ocasiões que a ele conduzem. Repetia-lhe freqüentemente estas palavras que a rainha Branca costumava dizer a São Luís: "Meu filho, preferiria ver-vos morto a saber que cometestes um único pecado mortal”. No dia marcado para a partida, rumou para Paris, sob a guia de um sacerdote hábil e virtuoso. Cursou retórica e filosofia no colégio dos jesuítas com o mais brilhante êxito; enviaram-no, em seguida, à academia, para que aprendesse a montar a cavalo, a manejar as armas, a dançar, enfim tudo quanto não podia ignorar um gentil homem da sua qualidade. Não sentia o menor interesse por tais exercícios; mas por ser-lhe lei nviolável cumprir a vontade dos pais, não deixou de ter êxito e adquirir aquele aspecto à vontade que sempre conservou. Não se aplicando a tais exercícios senão à guisa de diversão, cultivou sempre os primeiros estudos e aprendeu também hebraico, grego e teologia positiva de fama, então, em Paris. Passaram-se seis anos.

Entretanto, os estudos de que acabamos de falar não constituíam a única ocupação de Francisco. Despendia grande parte do tempo nos exercícios de piedade, a fim de animar todos os seus atos de um espírito de cristianismo. O Seu maior prazer era ler e meditar a Sagrada Escritura; depois do divino livro, não havia outro cuja leitura mais o encantasse do que o Combate espiritual, do qual nunca se separava. Procurava a companhia dos virtuosos, e comprazia-se acima de tudo com a do padre Ange de Joyeuse. o qual, de duque e marechal da Franca, se fizera capuchinho. As conversações do santo varão sobre a necessidade de mortificação levaram o jovem conde a acrescentar às suas devoções comuns a de usar o cilício três vezes por semana. Fez, ao mesmo tempo, voto de castidade perpétua na igreja de Santo Estêvão des Grés, aonde ia freqüentemente orar, por se tratar de lugar retirado e afastado do tumulto; colocou-se, em seguida, sob a proteção particular da Santa Virgem, a quem rogou fosse sua advogada ao pé de Deus, e lhe obtivesse a graça da continência. Chegou, então, o momento determinado por Deus para provar o servidor. Densas trevas se lhe espalharam no espírito, uma violenta agitação substituiu a profunda paz de que desfrutara até então e o jovem caiu numa secura e melancolia de desesperar; finalmente, persuadiu-se que Deus, a quem tanto amava, o incluirá no número dos reprovados. A medonha idéia o lançou em temores que não podem ser conhecidos senão dos que sofreram a mesma tentação, Francisco transcorria os dias e às noites chorando e lamentando-se. Espalhou-se-lhe pelo corpo a icterícia, e ele não lograva comer nem beber nem dormir. O seu preceptor, que ternamente o amava, afligia-se com o estado em que o via tanto mais que lhe buscava inutilmente a causa. Deus, enfim, permitiu que a calma se sucedesse à tormenta. Tendo Francisco regressado à igreja de Santo Estêvão des Grés, sentiu que lhe renascia a confiança à vista de um quadro da Santa Virgem. Prosternou-se diante da mãe de Deus, e, reconhecendo-se indigno de dirigir-se diretamente ao Pai de toda consolação, suplicou-lhe intercedesse em seu favor e lhe obtivesse, ao menos, a graça de amar de todo o coração, sobre a terra, um Deus que ele teria a desventura de odiar eternamente após a morte. Mal estava feita a prece, que a perturbação desapareceu; pareceu-lhe que lhe tiravam um peso enorme do coração, e recobrou imediatamente a tranqüilidade de que antes gozava.

Tendo terminado os estudos acadêmicos aos dezessete anos de idade, foi chamado de volta pelo pai, o qual em 1584, o mandou estudar em Pádua, sob a guia do famoso Guido Pancirola. Nessa cidade, ligou-se o jovem ao padre Antônio Possevin, a quem incumbiu de lhe dirigir a consciência e os estudos teológicos. O piedoso e sábio jesuíta explicava-lhe a Suma de Tomás de Aquino, e com ele lia as controvérsias do cardeal Belarmino; mas tratava menos de torná-lo sábio do que firmá-lo nos caminhos da perfeição onde caminhava a largos passos. Francisco preparou uma regra de vida que nos foi, conservada pelo sobrinho, e nela se nota, entre outras coisas, que se mantinha sempre na presença de Deus, que a tudo fazia para lhe agradar, e que lhe implorava o auxílio da graça no começo de cada um dos seus atos. Soube conservar uma castidade inviolável no meio da corrupção reinante em Pádua. As armadilhas preparadas pelos libertinos contra a sua inocência não serviram senão para multiplicar-lhe os triunfos e fazer rebrilhar a fidelidade votada ao Senhor.

Uma perigosa enfermidade, que o atacou na mesma cidade lhe ministrou a ocasião de mostrar como estava separado do mundo e submetido aos decretos da divina providência. Chamaram-se os mais hábeis médicos, e eles, após esgotarem inutilmente todos os recursos da arte, declararam que o jovem conde era incurável. Somente ele não se alarmou com o seu estado; esperava com resignação, e até com júbilo, o momento em que a alma, livre dos laços do corpo, se abismaria no seio da Divindade. O seu preceptor, acabrunhado pela mais amarga das dores, perguntou-lhe banhado em lágrimas, o que desejava que fizessem do seu corpo depois da morte. "Seja dado, respondeu Francisco, aos estudantes de medicina, para que o dissequem. Considerar-me-ei feliz se, após ter sido inútil na vida, for de alguma utilidade depois da morte; com isso, impedirei também algumas das disputas que se erguem entre os estudantes de medicina e os parentes dos mortos que eles desenterram". Deus, porém, que tinha os seus planos quanto ao servidor, devolveu-lhe a saúde, contra toda e qualquer esperança, e em pouco tempo o repôs em condições de reiniciar os estudos. Terminado o curso, recebeu o qrau de doutor, apôs sair-se das provas comuns com uma superioridade de inteligência tal que fez com que o admirassem todos os sábios de Pádua.

Enquanto o jovem conde, que tinha então vinte e quatro anos, se preparava para regressar para a família, recebeu uma missiva do pai, pela qual se lhe ordenava viajasse è Itália. Partiu, pois, para Ferrara de onde se transferiu para Roma. Quando se viu nesta cidade, o seu primeiro cuidado foi visitar os santos lugares. Enternecido à vista do túmulo dos mártires, não conseguiu refrear as lágrimas. Os restos da magnificência da antiga Roma lhe lembravam o nada das grandezas humanas, e cada vez mais apertavam os laços sagrados que o ligavam a Deus. De Roma, foi a Nossa Senhora de Loreto, após o que percorreu as mais famosas cidades da Itália. Finalmente, terminada a viagem, retomou o caminho da pátria. Toda a família o acolheu com as maiores demonstrações de júbilo. Fundava nele as mais lindas esperanças, vendo-o reunir no grau mais eminente todas as qualidades de espírito e coração. Com efeito o jovem conde encantava quantos o conheciam. Cláudio de Granier, bispo de Genebra, e Antônio Faure ou Fabre, que mais tarde foi primeiro presidente do senado de Chambéry, mal o conheceram, por ele conceberam os mais sinceros sentimentos de estima e amizade, e, embora o nosso santo ainda fosse apenas leigo, o bispo chegava a consultá-lo sobre questões eclesiásticas.

Sendo Francisco o filho mais velho da família, o pai havia-lhe arranjado um rico partido, e obtivera-lhe do duque de Sabóia as provisões de um cargo de conselheiro no senado de Chambéry. Mas o jovem recusou uma e outra coisa, sem ousar entretanto declarar o projeto que nutria de adotar o estado eclesiástico; abriu-se apenas com o preceptor, a quem rogou conversasse com o pai. Não quis o mestre incumbir-se de missão tão delicada, e até empregou todo o prestígio de que dispunha no espírito do aluno para fazê-lo abandonar tal resolução. Francisco dirigiu-se, então, a Luís de Sales, seu primo, cônego da catedral de Genebra, para obter o consentimento do pai, e tão bem o colocou nos seus interesses, que conseguiu êxito, mas após grandes dificuldades.

O prebostado da igreja de Genebra estava vago na época. Luís de Sales pediu-o ao papa para o seu parente, e obteve-o. O jovem conde, que ignorara inteiramente os passos do primo, recebeu com grande surpresa a nova da sua nomeação a tal dignidade; protestou que a não aceitaria, e só à custa de muito trabalho puderam determiná-lo a tomar posse. Mal recebeu o diaconato, incumbiu-o o seu bispo do ministério da palavra. Os primeiros sermões lhe atraíram grande reputação e produziram os maiores frutos. Efetivamente, possuía todas as qualidades exigidas para ter êxito em tal gênero, tinha aspecto grave e modesto, voz forte e agradável, ação viva e animada, mas sem pompa e sem ostentação; falava com uma unção que demonstrava dar ele aos outros um pouco da abundância e plenitude do seu coração Antes de pregar, cuidava de se renovar perante Deus por meio de gemidos secretos e preces fervorosas Estudava aos pés do crucifixo mais ainda que nos livros, persuadido de que nenhum pregador é capaz de produzir frutos, se não é homem de oração.

Quando viu aproximar-se o dia em que seria elevado ao sacerdócio, preparou com fervor celestial, e recebeu, com a imposição das mãos, a plenitude do espírito sacerdotal. Obrigou-se a oferecer todos os dias o santo sacrifício da missa, e fazia-o com piedade verdadeiramente angelical. Todos se sentiam penetrados da mais terna devoção, ao vê-lo no altar. Os olhos e o rosto brilhavam-lhe vivamente, tão grande era a atividade do fogo divino que lhe ardia no coracão. Após a missa, que costumava dizer de manhãzinha, ouvia as confissões de quantos se lhe apresentassem. Gostava de percorrer as aldeias, para instruir aquela parte do rebanho de Jesus Cristo que vive, geralmente, numa profunda ignorância dos seus deveres; a sua piedade, o desinteresse, a caridade para com os enfermos e os pobres o faziam querido nos lugares pelos quais passava, e lhe atraiam a confiança do povo. Os pobres aldeões, cuja rudeza repugna às almas comuns, considerava-os filhos; vivia com eles, como se lhes fora pai, compadecia-se das suas necessidades, e a todos dispensava auxílio. Nada, porém, lhes conquistava os corações como a inalterável doçura. Nascera vivo e colérico. A força de estudar a doçura na escola de Jesus Cristo, tornou-se o mais meigo dos homens. O remédio melhor que conheço contra as súbitas emoções de impaciência, disse ele, é o silêncio doce e sem fel. Por poucas que sejam as palavras proferidas, esgueira-se nelas o amor próprio, e escapam coisas que lançam por vinte e quatro horas o coração na amargura. Quando não dizemos uma palavra, e sorrimos de coração despreocupado, passa a tormenta; afasta-se a cólera e a indiscrição e desfruta-se uma alegria pura e duradoura. Foi particularmente por tal doçura sobrenatural que ele converteu setenta e dois mil hereges.

Um ano depois de ter sido ordenado sacerdote, erigiu em Annecy a confraria da Cruz. Empenhavam-se os confrades em instruir os ignorantes, consolar os enfermos e prisioneiros, evitar qualquer processo. Um ministro calvinista valeu-se da oportunidade para escrever um libelo, sem nome de autor nem de impressor contra a honra que os católicos prestavam a Cruz. Francisco de Sales refutou-o com a primeira das suas obras O ESTANDARTE DA CRUZ, dividida em quatro livros: Da honra e virtude da Cruz, Da honra e virtude da imagem da Cruz, Da honra e virtude do sinal da Cruz, Da qualidade da honra que se deve à Cruz.

Havia cinco ou seis séculos que a cidade de Genebra vivia, católica e feliz, sob o governo espiritual e temporal dos seus bispos. Pela metade do século dezesseis, a apostasia de Lutero foi nela introduzida à força pelos tiranos municipais de Berna, e definitivamente organizada pelo apóstata Calvino, de Noyon. As melhores famílias de Genebra, para permanecerem fiéis à fé dos pais, preferiram o exílio à apostasia e servidão; a nova população de Genebra apóstata formou-se do refugo da antiga e talvez mais ainda da canalha bastarda dos padres e monges apóstatas, a pior espécie entre a pior gente. A nova Genebra chamava-se a Roma protestante: era como se o inferno se chamasse o céu invertido.

Tendo-se Genebra tornado apóstata, de mêdo a Berna, os dois cantões se valeram da guerra entre Francisco I e o duque Filiberto de Sabóia para arrancar a este último o ducado de Chablais, com os três distritos de Gex, Terny e Gaillard, e deles expulsar a religião católica. Restabelecida a paz, sob Henrique II, com o duque, foram os protestantes obrigados a lhe desenvolver o Chablais e os três distritos, mas com a Cláusula de que a religião católica não seria restabelecida. Pela morte de Filiberto e a subida ao trono de Carlos Emanuel, seu filho, os suíços e os genebrianos romperam o tratado, caindo de improviso sobre as regiões. O novo duque retomou-as deles, e resolveu restabelecer a religião católica, não se ligando mais a um tratado rompido pela parte contrária. Entretanto, não o quis fazer pela força, como tinham feito Berna e Genebra, preferindo começar pela doçura. Com tal intuito, pediu ao bispo de Genebra, residente em Annecy, missionários capazes, pela virtude e doutrina, de tornar a levar ao seio da Igreja as populações do Chablais e dos três distritos, transviados, havia sessenta anos, pela heresia. O bispo, Cláudio de Granier, falou eloqüentemente ao seu clero, oferecendo colocar-se pessoalmente à testa dos missionários. Um único se revelou pronto, e foi Francisco de Sales, seu primo. Francisco foi declarado chefe da missão, sendo todos da opinião de que o bom bispo, sobretudo por causa da idade avançada, não devia aparecer, no começo. O conde de Sales que conhecia o caráter arrebatado dos calvinistas, temia pela vida do filho e tudo envidou para demover de semelhante empreendimento. Francisco apresentou-lhe tão boas razões, que lhe obteve o consentimento. Imediatamente, pegando Luís de Sales pela mão: vamos, disse-lhe, para onde nos chama Deus. Há várias lutas em que somente se consegue a vitoria pela fuga. Uma demora mais dilatada serviria apenas para enfraquecer; e outros, mais generosos do que nós, poderiam muito bem ganhar a coroa que nos estava reservada.

Na fronteira do Chablais, Francisco ajoelhou-se, e, debulhado em lágrimas, rogou a Deus que lhes abençoasse a entrada e a estada naquela província.

Depois abraçando ternamente o primo Luís, disse; tenho uma idéia; entramos nesta província para nela desempenhar as funções dos apóstolos. Se quisermos ter êxito, nunca os imitaremos em demaisa. Mandemos de volta os nossos cavalos, caminhemos a pé e contentemo-nos, como eles, do necessário. Luís de Sales consentiu, e ambos chegaram ao pé de Allinges, praça forte no alto de uma pequena montanha separada das outras. O barão de Hermance, varão sábio e amigo do santo, comandava pelo duque de Sabóia. Conduziu os dois missionários à plataforma do castelo, de onde a vista se estendia sobre todo o país. Francisco observou de todos os lados igrejas abatidas, mosteiros arruinados, cruzes derrubadas, cidades, burgos e castelos destruídos, funestas conseqüências da heresia e da guerra por ela atraída a tão bela província. Para reparar tantos desastres, ficou combinado que era mister começar a missão por Thonon, capital do Chablais, pouco distante de Allinges, aonde era preciso voltar todas as noites, pois Thonon, inteiramente calvinista, não oferecia nem segurança nem abrigo aos missionários.

Francisco, acompanhado de Luís de Sales e de um único criado, pôs-se a caminho. A sua bagagem consistia numa sacola onde só havia uma Bíblia e um breviário; caminhava a pé, apoiado a um bordão, e percorria diariamente duas boas léguas, através de uma região bastante rude, para ir deitar-se em Allinges; não partia sem celebrar a santa missa e nutrir-se do pão dos fortes. Era simples o hábito que usava, e, costumando-se naquela época usar botas, empregava-as comumente, de modo que, estando na moda os cabelos curtos e a barba cheia, pouco diferia no exterior dos próprios seculares, que se gabavam de alguma modéstia. Serviu tal para dar-lhe entrada na casa de alguns calvinistas, que conquistou finalmente para a Igreja. Pela mesma razão de uma caridosa condescendência, resolveu jamais empregar termos injuriosos ao falar dos hereges e da doutrina deles, e não opor aos seus ultrajes e maus tratos senão uma invencível doçura e paciência.

Os magistrados de Thonon, todos calvinistas, prometeram exteriormente obedecer às cartas do governador, que lhes ordenava proteger os dois missionários; mas desde o primeiro dia, pensou o povo em sublevar-se. Em Genebra, que dista apenas umas quatro ou cinco léguas, chegaram a ponto de quase empunhar as armas. Luís de Sales estremeceu, mas Francisco o tranqüilizou, dizendo-lhe, entre outras coisas, que o costume do povo era fazer muito barulho e que, quando se tivesse bastante firmeza para não ficar assombrado, por si próprio se habituaria às coisas que, antes, lhe tinham parecido esquisitíssimas.

Tendo o governador escrito novas cartas aos magistrados de Thonon, Francisco foi recebido com mais consideração, mas em breve verificou que havia severa proibição de ouvi-lo, de sorte que estava sozinho, como num deserto. Não deixava de ir todos os dias a Allinges, e partia freqüentemente, com tempo tão duro e incômodo, que os camponeses mais robustos não ousavam aventurar-se. A chuva, a neve, o gelo, os ventos mais terríveis a própria noite, não eram capazes de o impedir. Às vezes, apoderava-se dele o frio a ponto de imobilizá-lo e pô-lo em perigo de morrer, mas nada era capaz de lhe deter nem tampouco de lhe afrouxar o zelo.

Foi tão rigoroso o inverno daquele ano e tão intenso o frio, que os seus pés e pernas estavam rachados. Um dia, tendo partido mais tarde do que habitualmente, de Thonon para regressar a Allinges, surpreendeu-o a noite. Perdeu-se, e, após ter percorrido inutilmente um bom trecho de caminho, chegou muito tarde a uma aldeia cujas casas se achavam fechadas. A terra estava coberta de neve e era tão violento o frio que até durante o dia os camponeses se viam obrigados a permanecer fechados com os seus rebanhos. Bateu o santo em todas as portas, rogando aos moradores por tudo o que era capaz de comovê-los que o não deixassem morrer de frio. Ninguém lhe abriu; eram todos calvinistas, e, por cúmulo de azar, o criado o nomeara, julgando inspirar neles alguma consideração. Deus, porém, que jamais abandona os seus, o fez encontrar, naquela emergência, o forno da aldeia, ainda quente. Lá se alojaram como puderam, e foi o que lhes salvou a vida.

julgou morrer, de outra feita, pela dureza dos moradores de outra aldeia. Chegara de noite no meio de uma furiosa chuva, mas não logrou arranjar abrigo, por mais que rogasse, e viu-se obrigado a passar a noite exposto à chuva, louvando a Deus, como os apóstolos, por ter julgado conveniente fazê-lo sofrer pela glória do seu nome.

Certa vez, a saída de Thonon, retirando-se para Allinges, encontrou um calvinista que, movido pelos seus bons exemplos e pelos incríveis trabalhos que se dava todos os dias, em prol da salvação de um povo até então pouco reconhecido, lhe suplicava pelo amor de Deus que o instruísse sem tardança na religião católica. Francisco empreendeu imediatamente a tarefa, apesar das censuras do primo, que lhe rogava deixasse o caso para o dia seguinte, visto que a noite se aproximava e que era mister atravessar uma floresta. O que Luís previra sucedeu: Francisco demorou-se tanto tempo com o calvinista, que a noite os surpreendeu à entrada da floresta, e tornou-se tão trevosa, que foi impossível descobrir o caminho. Entretanto, os uivos dos lobos, os gritos dos ursos e dos demais animais selvagens descidos das montanhas vizinhas, tinham algo de tão terrível, que não era possível deixar de ficar aterrado; o criado morria de medo; Luís de Sales não se sentia mais seguro. Somente Francisco, cheio de confiança, os consolava e lhes prometia, por sua parte, livrá-los do perigo como livrara Daniel da fossa dos leões. Naquele mesmo instante, tendo-se levantado a lua, percebeu que não estavam longe duma construção arruinada, onde havia ainda restos de cúpula capaz de abrigá-los das injúrias do tempo. Entraram e lá passaram o resto da noite. Francisco, todavia, não conseguiu pregar olho. Percebeu, ao luar, que aquelas ruínas eram as de uma igreja destruída pelos hereges. Passou a noite gemendo, como o profeta sobre as ruínas de Jerusalém.

No entanto, não via Francisco nenhum resultado dos seus trabalhos no Chablais, quando Deus lhe suscitou auxiliares de um novo gênero. Os soldados da guarnição de Allinges, impressionados pela sua virtude, converteram-se, alguns do calvinismo à fé católica, e todos a uma vida melhor. Indo freqüentemente a Thonon, a mudança deles causou lá profunda impressão e diminuiu singularmente a aversão experimentada contra o varão apostólico. Vendo este que não mais o evitavam tão intensamente, pôs-se a fazer visitas a particulares cuja estima e afeto conquistou pelos encantos da sua doçura e polidez, enquanto os ministros huguenotes só se distinguiam pela arrogância e soberba. Ao mesmo tempo, soube Francisco que dois gentis homens, seus conhecidos, se batiam em duelo. Imediatamente acorreu, e, com perigo da própria vida, os separa e leva a se abraçarem. Deus fez mais: tocou-lhes o coração, e ambos fizeram uma confissão geral e tornaram-se fervorosos cristãos. Um deles, distinto na carreira das armas, habitava uma casa de campo na vizinhança de Thonon. Visto que as pessoas ilustres da região lhe faziam freqüentes visitas, falou-lhes do santo varão com tal entusiasmo, que todos manifestaram grande desejo de vê-lo e falar-lhe. O gentil homem ofereceu a sua casa para tanto. E lá se realizaram, a partir de então, conferências entre Francisco de Sales e os principais calvinistas do país.

Expôs, sobre os principais pontos de controvérsia, o que a Igreja católica acreditava e o que rejeitava. Os presentes ficaram maravilhados de saber que a Igreja católica não admitia absolutamente as enormidades que lhe imputavam os ministros huguenotes nos seus sermões, e que, pelo contrário, a sua doutrina era o bom senso e a própria moderação. Tendo-se espalhado a noticia, os pregadores huguenotes sustentaram que a doutrina católica não era a que Francisco expusera. Escreveu-a ele, então, nos termos do concílio de Trento, e ofereceu aos pregadores esclarecimentos em conferências pacíficas, quer escritas, quer orais. Não aceitaram nem uma coisa nem outra, e resolveram mandar matar o gentil homem católico que cedia a casa a Francisco. Um gentil homem calvinista, parente do primeiro, incumbiu-se do ato. Foi, portanto, procurá-lo, como que para distrair-se. Conduziu-o, o outro expressamente a um passeio solitário e disse-lhe: meu amigo, sei que plano tendes; vindes aqui assassinar-me; entretanto não temais, pois se a vossa religião vos leva a matar amigos e parentes, a minha me obriga, a exemplo de Jesu Cristo, a perdoar aos mais cruéis inimigos. Abraça-o com cordial amizade. O calvinista confunde-se a mais mais inviolável amizade. Não se detém nisso: pede-lhe entrevistas particulares com Francisco e torna-se católico tão fervoroso quão fervoroso calvinista havia sido.

A conversão desse homem, a exposição impressa da doutrina católica, a que nenhum pregador ousava responder, causaram grande impressão em todo o país. Os calvinistas cada vez mais numerosos iam ouvir Francisco. Os pregadores resolveram, então matá-lo, e para tanto contrataram os serviços de dois profissionais. Mas os católicos, avisados, escoltaram Francisco no seu regresso a Allinges. Mal entraram num bosque por onde era mister passar, saíram os dois assassinos dentre as moitas em que se haviam ocultado, e avançaram de espada na mão. Francisco não perde a habitual firmeza. Proíbe aos que o acompanham que se sirvam de armas, vai ao encontro dos matadores, e diz-lhes com inalterável doçura: enganai-vos, meus amigos; aparentemente nada tendes contra um homem que, bem longe de vos ter ofendido, seria capaz de dar a vida por vós. Aquelas palavras acalmam num instante a cólera dos assassinos, que por algum tempo permanecem imóveis para, logo depois, lançar-se aos pés do santo, e pedir-lhe perdão, protestando que no futuro não disporia de servidores mais fiéis nem mais dispostos a segui-lo fosse onde fosse. Francisco erque-os, abraça-os ternamente e lhes aconselha se afastem para evitar a perseguição do governador da província, o qual não teria tanta indulgência quanto ele.

Com efeito, tomou o governador medidas para agarrar os culpados. Francisco se empenhou inutilmente para impedí-lo. O governador quis, ao menos, dar-lhe uma escolta de seis soldados. Francisco, pelo contrário, pediu-lhe licença, e terminou por obter, a força de rogos, permissão para ir viver em Thonon, onde então havia vários católicos. Receberam-no estes com inexprimível júbilo, como recebiam os primeiros católicos aos apóstolos. Francisco, por sua vez, mantinha o seu ministério de maneira digna de Deus. Nada escapava à sua caridade e aos seus cuidados; empregava os dias no ensino e nas conferências, na visita aos pobres e enfermos, passando as noites no estudo, na prece e na reconciliação dos pecadores. A vida lhe sustentava as pregações, e as pregações completavam o que os bons exemplos tinham começado.

Tantas virtudes atraiam diariamente para a Igreja novos fiéis, mas, simultaneamente, aumentava a fúria dos hereges. Que fazemos? perguntavam. Eis um homem que conquista insensivelmente a estima do povo; consideram-no um apóstolo, e nós perdemos todos os dias um pouco de prestígio. Esperaremos que nos reduza a mendigar o pão e que estabeleça o papismo sobre as ruínas dos nossos templos? Se o deixarmos terminar o que começou, o duque de Sabóia virá, e valendo-se do pequeno número a que ficaremos reduzidos, estabelecerá a sua autoridade sobre a ruína dos nossos privilégios e nos reduzirá a uma triste servidão. A conclusão foi ser necessário desfazer-se de tal homem. De fato na noite seguinte, estando Francisco a passar uma parte dela na oração, ouviu uma bulha de armas e em seguida o ruído de várias pessoas que falavam baixinho. Percebendo que a casa fora invadida, ocultou-se. Nem bem o fizera, a porta foi abatida e os assassinos entraram dando grandes gritos e procurando-o por toda parte. Não o encontrando, supuseram que tivesse ido visitar um enfermo, e retiraram-se. Tendo sabido, depois, que estava em casa, acusaram-no de ser feiticeiro. Um calvinísta chegou até a jurar que o vira no sabá e que lá o tinham em grande consideração. Francisco, sabedor de tal, limitou-se a sorrir; depois, fazendo o sinal da cruz: eis, disse, os feitiços de que me sirvo; é com este sinal que espero vencer o inferno, e nunca entrar em acordo com ele.

Entretanto, após as reiteradas tentativas de assassínio, o presidente Faure, o bispo de Genebra, e sobretudo o conde de Sales, pai, instaram, por escrito, com Francisco para o obrigarem a deixar Chablais e voltar para Annecy, onde o seu zelo não careceria de oportunidade. O pai lhe repetia o que já dissera ao bispo: considerar-me-ia felicíssimo por ter santos em minha casa, mas preferiria que fossem confessores e não mártires.

Francisco pensava de outro modo. Tranqüilizou os amigos e o pai. Aquelas tentativas de assassínio se voltavam contra os autores; dizia-se, por toda parte, que se os pregadores de Thonon e de Genebra tinham certeza da sua doutrina, não recorreriam a semelhantes violências, aceitando, pelo contrário, as conferências que Francisco não cessava de lhes propor. Eram, enfim, convidados, a proceder assim. Apesar dessas provocações, mantiveram-se calados. Mas Francisco não se calou: uma única das suas pregações, converteu seiscentas pessoas. Os pregadores huguenotes reuniram-se em consistório em Thonon, para estudar o mero de deter os progressos daquele novo conquistador; propuseram-se três ou quatro soluções; a conclusão foi que se não tomou nenhuma. Francisco não procedeu da mesma maneira: provocou-os e por vários escritos, a uma conferência pública. Foram, por fim, obrigados a aceitar. No dia combinado, porém, recuaram, com o pretexto de lhes faltar a autorização do soberano, duque de Sabóia. Foi em vão que Francisco lhes mostrou que a autorização do governador da província era bastante e que ele lhes garantiria a do soberano. Nada se concluiu. Somente um dos pregadores, envergonhado do recuo dos co-irmãos, aceitou uma conferência particular com Francisco. O resultado foi que abjurou os erros e se fez católico. Os demais envidaram todos os esforços para o atraírem de novo ao seu seio. Não o conseguindo, acusaram-no, fizeram-no condenar a morte e executar tão depressa, que Francisco não teve tempo de solicitar o perdão ao duque de Sabóia. Aquela violência horrorizou todos, e aumentou as conversões, em vez de as impedir. O advogado Poncet, renomado em Genebra e em toda a província, declarou-se católico, e o seu exemplo foi seguido de grande número de pessoas de todas as categorias. A conversão do barão d'Avully foi a mais ruidosa. Era ele chefe do partido calvinista no Chablais. Desposara mulher católica, a quem esperava converter ao calvinismo; mas encontrou-a tão culta quão virtuosa. Arraniou-lhe ela algumas conferências com Francisco de Sales, e o homem notou imediatamente que não era sua esposa, mas ele próprio quem estava errado. As conversações mantidas com Francisco de Sales foram escritas e enviadas aos pregadores de Genebra e Berna. Nem uns nem outros responderam. O barão d'Avully quis que se soubesse em todo o país, e até em Genebra, o dia em que iria abjurar. Convidou quanta gente pôde, declarou publicamente os motivos da sua conversão, e foi recebido na comunidade católica, na presença de todo o povo de Thon e de grande número de calvinistas de Genebra,

Francisco converteu e reconduziu ao seio da Igreja setenta e dois mil hereges. Entre os próprios católicos, converteu um número não menos considerável de pecadores. Os seus escritos, em particular a Introdução à vida devota e o Tratado do amor de Deus, iluminam e entretém a devoção num sem número de fiéis: a ordem da Visitação, que estabeleceu com Santa Francisca de Chantal, e que pôs em Paris sob a direção de São Vicente de Paulo, não cessa de conduzir à perfeição um grupo seleto de almas fervorosas. O santo morreu em Lião, em 28 de dezembro de 1622. Foi canonizado em 1665 pelo papa Alexandre VII, que lhe fixou a festa em 29 de janeiro, dia no qual o seu corpo foi levado para Annecy, e Pio IX, atendendo ao pedido de muitos bispos, proclamou São Francisco de Sales Doutor da Igreja, em 1877. Em 1923, Pio XI o declara padroeiro da boa imprensa e dos jornalistas católicos.

Além da Congregação das Visitandinas, ele inspirou, mesmo após a morte, vários clérigos e várias congregações, as quais se formaram sob seu patronato: entre outras, os Missionários de São Francisco de Sales, de Annecy; a Ordem dos Salesianos, fundada em Turim, Itália, por Dom Bosco e devotado ao ensino cristão de crianças pobres; e a Oblatas de São Francisco de Sales, fundada em Troyes, França, pelo Padre Brisson.

São Francisco de Sales escreveu em francês, e nós conhecemos alguns dos seus livros. Leiamo-los com particular devoção. Roguemos ao nosso santo compatriota que nos obtenha de Deus a graça de tirar proveito dos seus exemplos e escritos, de modo tal que nos tornemos seus compatriotas no céu.


.Fonte: Padre Rohrbacher, Vida dos Santos, Tomo II.
Obs: Possui alguns acréscimos necessários!

São Basílio Magno, Bispo e Doutor da Igreja

     Comemoração litúrgica: 2 de janeiro  -
ORDEM DE SÃO BASÍLIO MAGNO - OSBM
São Basílio é o legislador das regras da Ordem, que tem origem na metade do século IV 
                                               
São  Basílio, este grande  doutor da Igreja, nasceu  em 330, na cidade de Cesaréia, na Capadócia,  como o mais velho de quatro irmãos, dos quais três alcançaram a  dignidade episcopal.  De cinco irmãs, a mais velha, Macrina, dedicou a sua vida a  Deus. 
Os pais do nosso Santo, Basílio e  Emélia, eram ricos  e  gozavam  de grande estima. Criança ainda,  Basílio foi acometido de grave doença,  da qual a  oração do pai maravilhosamente o curou. Entregue aos cuidados de sua avó, Macrina,  recebeu Basílio as  primeiras  instruções na prática cristã.  Mais tarde, começou os estudos em Cesaréia, contemplando o curso em Constantinopla onde se ligou a São Gregório Nazianzeno em íntima amizade.   Quando voltou a Cesaréia, estava morto já o pai.  O exemplo e  as  palavras animadoras da  avó Macrina, confirmaram-lhe o desejo de abandonar o mundo e levar uma vida de penitência e abnegação.  Neste intuito,  visitou diversos  eremitas no Egito, Síria, Palestina e Mesopotâmia, voltando para cesaréia com disposição ainda maior de  realizar esse plano.  O bispo Diânio, conferiu-lhe o leitorado.  Diânio, embora fiel à Religião Católica, por umas  declarações feitas nos concílios de Antioquia e Sárdica,  fez com que a ortodoxia fosse posta em dúvida.  Basílio, profundamente entristecido com esse  fato e para não se expor  e perder a  fé, com grande pesar  se separou do bispo,  a  quem dedicava grande amizade, e  dirigiu-se para Ponto, onde a  santa mãe e uma irmã tinham fundado um convento para donzelas cristãs. 
       Basílio, imitando o exemplo, tornou-se fundador  de um convento para homens, cuja direção foi, mais tarde, entregue a  seu irmão, São Pedro de Sebaste. A essas duas fundações, seguiram-se outras e cresceu consideravelmente o número de conventos no Ponto.  Foi nesta época, em que Basílio escreveu obras belíssimas sobre a vida religiosa,  compôs a regra da vida monástica, que até hoje é observada pelos monges da Igreja Oriental. 
         São Basílio assim se  tornou o pai do monaquismo na Igreja Oriental. 
        A vida de São Basílio era regida por uma austeridade, que causava admiração a  todos.  Ele,  fundador da Ordem, era a regra viva, dando a todos os religiosos o exemplo de todas as virtudes monásticas.  Era tão magro que parecia só pele e osso.  Aos 49 anos já era velho.  Entretanto,  fraco de  corpo, era  um herói  de  espírito. 
     O bispo Diânio, estando gravemente enfermo, mandou chamar para perto de si o santo amigo.  Sucedeu-lhe no bispado Eusébio, de  quem  Basílio  recebeu o presbiterato, com a  ordem de pregar.  Basílio continuou a  vida austera, como se estivesse no meio dos confrades.  Como, porém,  a  fama  de santIdade e  sabedoria do santo servo de Deus, começasse a incomodar e irritar ao bispo Eusébio,  Basílio retirou-se  para a solidão.  Não podiam ficar desapercebidos os sentimentos rancorosos de  Eusébio, o qual, intimado pelas  reclamações e ameaças do povo, tratou de  reabilitar o suposto êmulo.  A insistente propaganda do Arianismo, a calamidade pública, provocada  por uma grande carestia,  a direção de diversos conventos de ambos os sexos, tornaram necessária e imprescindível a  presença de Basílio em  Cesaréia.
       Os serviços que naquela ocasião prestou à população,  quer como pregador,  quer como confessor e  esmoler,  foram tantos que o próprio bispo, de desafeto que era, se lhe tornou um dedicado amigo e nada fazia, sem antes se  aconselhar com Basílio. 
       Eusébio morreu em 370 e teve por sucessor Basílio, o qual,  como  arcebispo de Cesaréia, veio a ser um astro luminoso da  Igreja Oriental.  Cumpridor dos deveres episcopais, modelo exemplaríssimo em todas as virtudes, era Basílio um baluarte fortíssimo do catolicismo contra os contínuos e  rudes ataques da heresia ariana, cujos defensores mais ardentes e poderosos se  achavam nas imediações do imperador Valente, o qual,  por sua vez,  era  adepto fanático da seita.  Valente não podia de bons olhos,  observar o desenvolvimento grandioso que a  arquidiocese de Cesaréia tomava, sob a direção do  santo pastor.  Uma comissão imperial, chefiada pelo valente capitão Modesto, seguiu com ordens especiais para Cesaréia, para por um paradeiro à atividade  apostólica de Basílio.
        O êxito dessa missão foi tão humilhante para os emissários, que maior não podia ser.  Com todas as instruções de que eram portadores, com todas as  lisonjas e ameaças, com todas as  argumentações sutis e  sofísticas,  não puderam impedir  que o espírito, a inteligência, a coragem e  a  intrepidez do santo arcebispo,  se  mostrassem de  uma superioridade admirável. Em três audiências, para as  quais  convidaram Basílio, este respondeu com tanta mansidão, clareza e energia, que no relatório que apresentaram ao imperador, confessaram redondamente a derrota. 
          Valente, em conseqüência desse fracasso, não mais importunou os  católicos.  Por ocasião da festa da Epifania foi ele mesmo a Cesaréia assistir ao Santo Sacrifício celebrado por Basílio.  Tão admirado ficou da majestade e  esplendor da  santa função que,  embora não se atrevesse  a  receber a Santa Comunhão  das mãos do arcebispo,  foi com os fiéis fazer oferenda, a qual,  aceita por Basílio que, por motivos  de prudência, julgou conveniente dispensar, por esta vez,  o rigor das leis  disciplinares da Igreja.  Valente caiu em si e  começou a tratar os católicos com mais clemência e  tolerância. 
          Não estavam  com isto de  acordo alguns palacianos,  os quais  lançando mão de todos os  meios,  conseguiram, por fim,  um decreto que ordenava a expatriação de Basílio.  No dia em que devia ser executada a  iníqua  sentença, caiu gravemente enfermo o único filho do imperador, e no estado de saúde da imperatriz se deram manifestações alarmantes de perturbações sérias.  Entre dores e desesperos, dizia  ela ao imperador que não havia dúvida tratar-se de  um justo castigo de  Deus. 
       Basílio foi reabilitado e com grandes honras  recebido no palácio imperial.  Valente prometeu ao arcebispo a  educação do príncipe herdeiro na religião Católica, se lhe alcançasse Deus o restabelecimento do mesmo.  De fato, o príncipe sarou, mas o imperador, não cumprindo depois a palavra, teve o desgosto de  perder o filho.  Recomeçaram, então,  as  maquinações  contra Basílio.  Estava lavrada a ata, que ordenava o exílio do arcebispo.  Três vezes, o imperador se dispôs a  dar-lhe assinatura e três vezes, quebrou-se-lhe a pena. Assustado com este fato, Valente tomou do papel e, com a mão trêmula,  rasgou o documento. Nunca mais se abriu campanha contra o santo.
           Modesto fez as pazes  com Basílio.  Um outro oficial, Eusébio,  que tinha dado ordem de prisão ao bispo,  retirou-a diante da atitude ameaçadora do povo, em defesa de seu pastor. 
           À tempestade, seguiu a bonança.  Basílio pôde com tranqüilidade e paz, dedicar-se aos trabalho do apostolado.  O ano de 379 trouxe-lhe a recompensa do céu.  As últimas palavras que disse, foram:  “Senhor, em vossas  mãos restituo minha alma”.  Morreu com 49 anos de idade.  Figura entre os quatro grandes doutores da Igreja do Oriente. 
Reflexões
São Basílio não hesitou em abandonar o próprio bispo Diânio, quando este começou a travar relações com os hereges.  “No meio de maus e perversos, será mau e perverso igualmente” (II Re 22-27).  Quantos  exemplos não provam  a  verdade  desta palavra do Espírito Santo.  Referimos apenas  dois:  Salomão, o monarca mais sábio do seu tempo,  afastou-se do caminho de  Deus,  fazendo-o rodear de mulheres  pagãs, cujas divindades chegou a adorar.  Dina, impedida pela curiosidade, foi ter com as  filhas de Cana (idólatras) e voltou desonrada, causando esta  desonra a  morte de  muita gente.   Que diz a experiência dos nossos dias? Não são muitos os  católicos que perderam  a fé, devido à relações que tiveram  com seitas  estranhas e ímpios?  Quantas donzelas, quantos jovens choram amargamente a  perda da inocência, resultado da liberdade  que se permitiram, com pessoas do outro sexo?  Que foi que perverteu o moço,  filho de família honrada, a ponto de  ser objeto de desprezo de todos  que o conhecem?  Unicamente a má companhia.  Que levou o esposo, antes exemplar,  a  atentar contra a santidade do matrimônio, senão a companhia de maus elementos? 
A vida e o exemplo  de São Basílio  ensinam-nos que devemos fugir,  como da peste, da influência maligna de más  companhias. Um olhar indiscreto fez com que Davi, o homem segundo o coração de Deus, caísse em pecados gravíssimos, tornando-se adúltero e  assassino. Somos  nós mais  santos que Davi, mais  sábios que Salomão? 

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

São Raimundo de Penaforte

Raymon de Peñaforte.jpgMestre Geral da Ordem dos Pregadores
Nascimento c. 1175 em Vilafranca del Penedès, Espanha
Morte 6 de Janeiro de 1275 em Barcelona, Espanha
Veneração por Igreja Católica
Canonização 29 de Abril de 1601 por: Papa Clemente VIII
Principal templo Catedral de Barcelona, Espanha
Festa litúrgica 7 de Janeiro
Padroeiro:Lei canónica; advogados canônicos; advogados da Espanha.
Raimundo de Penaforte, do catalão Raimon de Penyafort (Vilafranca del Penedès, c. 1175 - Barcelona, 6 de Janeiro de 1275) é o santo patrono da lei canónica e dos advogados canônicos.
Raimundo dedicou-se desde jovem aos estudos filosóficos e jurídicos. Aos 20 anos de idade ensinava filosofia e direito canónico em Barcelona, onde foi cónego. Em 1210 foi ensinar para Bolonha (Itália), onde ficou até 1222. Foi capelão do papa Alexandre IV, e confessor de do rei Jaime I de Aragão, ao qual repreendeu pela vida licenciosa.
Entrou depois na Ordem dos Pregadores, no convento de Santa Catalina e fez uma interveção na proclamação da cruzada contra Maiorca.
A sua colaboração com Pedro Nolasco foi essencial na fundação da Ordem de Nossa Senhora das Mercês para a Redenção dos Cativos, obtendo o consentimento de Jaime I para a fundação da Ordem.

Organização da Lei Canónica

Por ordem do Papa Gregório IX, voltou a Roma em 1230 para editar a colecção das «Decretais» e fazer a codificação da Lei canónica, que previamente estava espalhada por inúmeros documentos. A sua orgazição tornou-se um padrão por quase 700 anos, e a Lei canónica foi completamente codificada só em 1917.
Porém, quando o Papa disse que iria nomeá-lo Arcebispo de Tarragona, sentiu-se tão consternado que caiu gravemente enfermo. Quando os seus conhecidos amigos Dominicanos de Bolonha chegaram em Barcelona, abandonou tudo para vestir o hábito branco de São Domingos.

Conversões e repressão de outros credos

Em 1238 tornou-se terceiro Superior da Ordem Geral dos Dominicanos, por dois anos visitando a pé todos os conventos da Ordem. Redigiu também as suas novas constituições, promulgadas em Paris em 1240), apesar de renunciar ao seu cargo alegando motivos de fraca saúde, o que não deixa de ser irónico para quem viveu até cerca dos 100 anos.
Durante este tempo dedicou-se a converter judeus e muçulmanos ao cristianismo, e para cumprir este objectivo introduziu o ensino das línguas árabe e hebraica nas escolas dos dominicanos.
Exercendo a sua influência sobre o Jaime I de Aragão, persuadiu-o a convocar um debate público sobre o judaísmo e o cristianismo, entre Moshe ben Nahman (também chamado El Rab de España ou Bonastruc de Porta), um rabino de Gerona, e Pablo Christiani, um judeu convertido de Montpellier que pertencia à Ordem Dominicana. Neste debate, que teve lugar no palácio real de Barcelona (20-24 de Julho de 1263), na presença do rei e do alto clero, Raimundo teve um papel importante. Liderava os teólogos presentes e, com a concordância do rei, deu liberdade de expressão ao rabino, mas observando que não deveria blasfemar contra o cristianismo. A isto, Moshe ben Nahman respondeu que sabia o que as leis da propriedade exigiam. No sabbath imediatamente após o debate, os cristãos visitaram a sinagoga, onde Raimundo pregou a Santíssima Trindade, refutada pelo rabino.
Raimundo obteve a permissão de Jaime I para que Pablo Christiani continuasse as suas viagens missionárias, e também a ordem para que todos os judeus sob a sua soberania fossem obrigados a ouvir os sermões deste e de todos os outros dominicanos. Para além disso, deu um prazo de três meses para eliminar dos livros destes tudo o que estivesse contra a religião cristã. A comissão de censura nomeada consistia em Arnaldo de Guerbo, bispo de Barcelona, Raimundo, e os dominicanos Arnoldo de Legarra, Raymundo Martin (autor de Pugio Fidei) e Pedro de Janua, ou Génova.

Últimos anos

Aos 70 anos voltou a ensinar. Foi também um escritor fecundo. Entre os seus escritos, destaca-se a Summa Casuum para a administração recta e proveitosa do sacramento da Penitência, e também a Summa de poenitentia et matrimonio, a Summa contra gentes sobre muçulmanos e judeus e a Summa pastorales.
Raimundo morreu em 6 de Janeiro de 1275 e está enterrado na catedral de Barcelona. O papa Clemente VIII procedeu à sua canonização em 29 de Abril de 1601. É o santo padroeiro da Lei canónica e dos seus advogados, e na Espanha é padroeiro de todos os advogados. A sua festa religiosa celebra-se a 23 de Janeiro.
O Estado espanhol, por decreto de 23 de Janeiro de 1944, instituiu a condecoração honorífica «Cruz de San Raimundo de Peñafort» visando premiar aqueles que por relevantes méritos se distingam na administração da justiça e no estudo do direito em todos os seus ramos.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Jerónimo Emiliano

Convertido e penitente, Santo 1481-1537
A Providência serviu-se do extraordinário espírito de penitência de um pecador para fazer germinar prodigiosa obra de amparo aos pobres, órfãos e doentes, bem como recuperação de mulheres de má vida
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Para opor-se às nefastas influências do Renascimento e do protestantismo no século XVI, a Providência suscitou uma plêiade de grandes Santos que agiram nos mais variados campos da actividade humana. Um deles foi São Jerónimo Emiliani, do patriciado de Veneza, senador da República, militar brilhante e valoroso, que tudo deixou para amparar e dar formação cristã aos órfãos das inúmeras guerras e pestes do tempo. Sua festa comemora-se a 8 de fevereiro.
Oriundo de uma família nobre que havia já dado ilustres membros à Igreja, ao Senado e às armas da Sereníssima República de Veneza, Jerónimo nasceu naquela cidade marítima em 1481. Seu pai, senador, tinha pouco tempo para dedicar à sua educação, que foi entregue à sua mãe. Piedosa e meiga, Dona Eleonora soube incutir no coração do menino profundas sementes de Religião, que mais tarde dariam fruto.
Mas foi o nobre amor às armas, herdado de seus antepassados, que teve a preferência do pequeno Jerónimo, de tal sorte que já aos 15 anos, pouco depois de perder o pai, ele se alistava no exército da República veneziana.
Participando de várias batalhas, foi sempre notado por seu valor e brio militar. Mas infelizmente sofreu a má influência da vida licenciosa, já então comum em quartéis e acampamentos. Más amizades ajudaram-no a deslizar insensivelmente pela rampa do vício, e Jerónimo entregou-se a muitos excessos. Um deles era o da ira, que chegava facilmente a verdadeiro furor. Se ele não caiu mais baixo, foi porque, aspirando aos mais altos cargos em Veneza, necessitava ter uma conduta honrosa.
O contínuo apelo às armas não lhe permitiu formar um lar. Ou melhor, Deus não o permitiu, porque tinha desígnios sobre ele.

No cárcere, ouve a  voz de Deus

Contava Jerónimo 28 anos quando, em 1508, os venezianos levantaram-se em armas contra a Liga de Cambray, formada pelo Papa e pelos Reis Luís XII da França, Maximiliano da Alemanha e Fernando o Católico, da Espanha. A ele foi confiada a difícil defesa de Castelnuovo. Vendo a desproporção entre os dois exércitos, o governador da cidade fugiu, deixando-o com todo o ónus da defesa. Jerónimo negou-se a render-se, e lutou até que a praça fosse arrasada.
Em seguida, segundo o costume do tempo, ele foi preso numa torre, carregado de correntes no pescoço, braços e pés. O pior, porém, era a perspectiva da morte e o lento passar do tempo.
Nas intermináveis horas em que jazia no cárcere, a graça foi produzindo seus frutos em sua alma, e ele começou a lembrar-se dos ensinamentos de piedade e virtude recebidos em criança, e do bom exemplo dos irmãos e da mãe. Considerou a vida desordenada que levava, tão afastado de Deus, e acabou por julgar que era um merecido castigo aquele que lhe fora infligido. Pediu a Deus, pela intercessão de Nossa Senhora de Treviso, que o aceitasse como expiação e lhe desse uma oportunidade de reparar condignamente a vida passada.

Auxiliado por Nossa Senhora, foge da prisão

Apareceu-lhe então Nossa Senhora, que lhe deu as chaves de suas correntes e do calabouço. Auxiliou-o a sair da prisão sem ser visto e a atravessar o campo inimigo, para chegar a Treviso. Lá, no altar da Virgem, Jerónimo depôs as correntes e as chaves que lhe tinham sido milagrosamente entregues. Quis que esse ato fosse registrado por um notário público, e depois pintado por um dos famosos pintores de Veneza.
Começou para Jerónimo Emiliani uma guerra muito mais árdua e sem quartel do que todas as outras: a luta contra seus próprios defeitos. Em busca de auxílio, procurou um piedoso sacerdote como director espiritual e recorreu com frequência aos Sacramentos. Prostrava-se diante de um Crucifixo e suplicava: “Ó Jesus, não sejais um Juiz para mim, sede antes o meu Salvador”. Ou, como Santo Agostinho: “Senhor, sede para mim verdadeiramente Jesus! Vós só podeis ser meu Salvador”.
Aos poucos foi controlando suas paixões, sobretudo a ira, pelo exercício da docilidade e paciência. Adquiriu assim a verdadeira humildade e mansidão de coração, tornando-se o homem mais afável e pacífico de Veneza.
O Senado da Rainha do Adriático – como era conhecida Veneza ―, para recompensá-lo por seu valor na defesa de Castelnuovo, nomeou-o governador dessa cidade. Mas ele teve pouco tempo para exercer esse cargo, pois necessitou tomar sobre si a tutela dos sobrinhos, que o repentino falecimento de seu irmão deixara órfãos. Tendo-lhes assegurado uma boa educação e um rendimento de acordo com sua alta categoria, ele ficou livre para cumprir então o que havia prometido.
Jerónimo Emiliani já não era o mesmo. Renunciara a todos os cargos e comodidades da vida, mesmo as mais legítimas, às belas roupas, e afligia seu corpo com jejuns e penitências extraordinários, passando longas horas em oração e empregando o tempo livre em socorrer os pobres e doentes.
Em 1528 uma grande carestia assolou a Itália, com fome geral. Todos os dias a morte ceifava inúmeras vítimas. Para socorrê-las, Emiliani vendeu até os seus próprios móveis, transformando sua casa em hospital.
À fome sucedeu uma moléstia contagiosa, que fez muito mais vítimas. Jerónimo foi atingido tão fortemente, que chegou a receber os últimos Sacramentos. Mas pediu a Deus saúde para poder, por uma penitência mais longa, reparar a vida passada. Foi ouvido, e redobrou de zelo no amor a Deus e ao próximo.

Orfanato: obra precursora de uma família religiosa

A fome e a peste haviam deixado grande número de órfãos, que vagavam pelas ruas reduzidos à mendicidade e exposto aos piores vícios. O Santo começou a recolhê-los em uma casa que comprara para isso; procurou mestres para ensinar-lhes alguns ofícios, e proveu sobretudo à saúde de suas almas. Fazia com eles as orações da manhã e da noite. Levava-os  a assistir à Missa diariamente e a alternar o trabalho manual com momentos de silêncio,  o cântico de ladainhas e outras orações. Fazia-os confessarem-se uma vez por mês, e nos dias de festa levava-os, todos vestidos de branco, a visitar os principais santuários de Veneza, cantando ladainhas pelas ruas e praças. Toda a cidade via emocionada aquele que fora um cavaleiro tão brilhante, agora transformado no pai dos órfãos.
A caridade de Jerónimo Emiliani não se circunscreveu a Veneza, mas logo atingiu também Bérgamo, Bréscia, Como e Somasca. Já nesse tempo havia recebido a ordenação sacerdotal, e a ele tinham se reunido mais dois santos sacerdotes, que, a seu exemplo, distribuíram aos pobres tudo o que possuíam, para abraçar a pobreza voluntária.

Congregação e depois Ordem de amparo à pobreza

Jerónimo pensou logo em fundar uma Congregação regular para dar mais estabilidade à sua obra. Escolheu para isso Somasca, entre Milão e Bérgamo, para estabelecer a casa-mãe e o seminário. Daí veio o nome pelo qual ficaram conhecidos, Clérigos Regulares de Somasca. O Santo escreveu os primeiros regulamentos para essa Congregação, a base dos quais era a santa pobreza, que deveria manifestar-se em todas as coisas, desde o hábito até o mobiliário da casa. Os alimentos mais requintados foram abolidos de sua mesa, devendo eles contentar-se com a comida comum dos camponeses. Durante as refeições haveria leitura espiritual. Observariam o silêncio e as mortificações da regra. Empregariam parte da noite em oração, e durante o dia, se não estivessem atendendo os órfãos ou os doentes, deveriam entreter-se com algum trabalho manual. A finalidade principal dos Clérigos Regulares era a instrução das crianças e de jovens eclesiásticos.
Em Bérgamo, o Santo procurou também reconduzir para o bom caminho mulheres perdidas, que ele havia convertido. Obteve que fossem fechadas as casas que serviam para sua libertinagem. Aumentando o número das arrependidas, reuniu-as em uma casa especial, com uma regra de vida, para que perseverassem nos bons propósitos.

Um Papa e um Santo defendem Jerónimo Emiliani

Sua Congregação foi aprovada como Ordem religiosa pelo Papa Paulo III, grande amigo de Jerónimo. Esse Pontífice, juntamente com São Caetano de Tienne, era um de seus mais ardorosos defensores e benfeitores.
Vendo o bem que o Santo fazia, o Senado de Veneza ofereceu-lhe a direcção do hospital dos incuráveis, que Jerónimo aceitou pela oportunidade que tinha de dar assistência a muitos doentes terminais. Quando via-se sem recursos materiais para acudir a tantas iniciativas, escolhia quatro de seus orfãozinhos com menos de oito anos de idade, portanto mais inocentes, para fazer ao Céu violência com suas orações.
Entrementes, a fama de santidade de Jerónimo atraía-lhe muitos doadores e novos membros para sua Congregação.

Morte: último ato de caridade numa epidemia

Embora contasse pouco mais de 55 anos, Jerónimo teve certa premonição de que seu fim estava próximo. Procurou então consolidar sua obra, visitando todas as casas da Ordem. Ia sempre a pé e não tomava outro alimento senão pão e água.
Uma terrível peste afligiu Bérgamo, fazendo inúmeras vítimas. Para lá acorreu Jerónimo Emiliani com o mesmo ardor de sempre. Contraiu também a peste e viu que seus dias estavam contados. Alegre, repetia com São Paulo: “Quero a morte, para viver com Cristo”. Reuniu seus discípulos para os últimos conselhos. Os benditos nomes de Jesus e de Maria não lhe saíam dos lábios.
Enfim, no dia 8 de fevereiro de 1537, tendo recebido os últimos Sacramentos, entregou sua alma a Deus, na idade de 56 anos.
Pio XI o proclamou patrono universal dos meninos órfãos e abandonados.
Fonte: Alexandrina Balasar

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Antologia de Homilias de Santo Hilário de Poitiers

Santo Hilário de Poitiers

(cerca de 315 - 367), bispo de Poitiers, doutor da Igreja

. De Trinitate: «Com que autoridade fazes isso?»
. De Trinitate: «O caminho para o Pai»
. «A unidade natural dos fiéis em Deus, encarnação do Verbo e o sacramento da Eucaristia»
. Comentário sobre S. Mateus: Cristo é o cumprimento das Escrituras: «Eu não vim abolir mas cumprir»
. Trindade, 12, oração final: «E não fez ali muitos milagres por causa da falta de fé deles»
. Tratado dos Mistérios, Prefácio: «A vós, é-vos dado que conheçais os mistérios do Reino de Deus»
. Sobre Mateus, 4, 27:  «Sede perfeitos como o vosso Pai celestial é perfeito»
. De Trinitate, VII, 26-27 : «Com que autoridade fazes isso?»
. Tratado sobre o salmo 91,3,4-5,7: «É permitido, no dia de sábado, fazer o bem?... salvar uma vida?»
. Tratado sobre a Trindade: «Não compreendeis ainda? Tendes os vossos corações cegos?»
. Tratado sobre o salmo 64: «O Templo de que falava era o seu Corpo»
. A Trindade, 12,52-53: «Não é o filho do carpinteiro?... Ele não fez muitos milagres neste lugar, em virtude da falta e fé deles»
. A Trindade, 2, 31-35: «Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco: o Espírito de verdade»
. La Trinité, 12, 55s; PL 10, 472: «Não sabes de onde ele vem nem para onde vai»
. Comentários sobre Mateus, 16: «Tu és... o Filho do Deus vivo»

«Com que autoridade fazes isso?»
De Trinitate
É bem do Pai, este Filho que se lhe assemelha. Vem d’Ele, este Filho que se lhe pode comparar, porque a Ele é semelhante. É igual a Ele, este Filho que realiza as mesmas obras (Jo 5,36)… Sim, o Filho cumpre as obras do Pai; por isso, nos pede que acreditemos que Ele é o Filho de Deus. Não se arroga um título que lhe não seja devido; não é nas suas próprias obras que apoia a sua reivindicação. Não! Ele testemunha que não são as suas próprias obras mas as do Pai. Atesta assim que o fulgor das suas acções lhe vem do seu nascimento divino. Mas como é que os homens teriam podido reconhecer n’Ele o Filho de Deus, no mistério daquele corpo que Ele tinha assumido, naquele homem nascido de Maria? Foi para fazer penetrar no coração dos homens a fé n’Ele próprio que o Senhor cumpriu todas aquelas obras: “Se cumpro as obras de meu Pai, então, mesmo se não quiserem acreditar em mim, acreditem ao menos nas minhas obras!” (Jo 10,38)
Se a humilde condição do seu corpo parece um obstáculo para que creiamos na sua palavra, Ele pede-nos que ao menos acreditemos nas suas obras. Com efeito, porque é que o mistério do seu nascimento humano nos impediria de acolher o seu nascimento divino?... “Se não quiserem acreditar em mim, acreditem nas minhas obras, para saberem e reconhecerem que o Pai está em mim e Eu no Pai”…
Assim é a natureza que Ele possui pelo nascimento; assim é o mistério de uma fé que nos garantirá a salvação: não dividir quem é um só, não privar o Filho da sua natureza e proclamar o mistério do Deus Vivo, nascido do Deus Vivo… “Tal como o Pai que me enviou está vivo, também eu vivo pelo Pai” (Jo 6,57). “Como o Pai tem a vida em si mesmo, também Ele concedeu que o Filho também tivesse a vida em si” (Jo 5,26). 

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«O caminho para o Pai»
De Trinitate
O Senhor não nos deixou um ensino incerto ou duvidoso sobre o mistério, nem nos abandonou ao erro que pode nascer de uma compreensão ambígua. Escutemo-lo, pois, quando revela aos apóstolos o inteiro conhecimento dessa fé. Com efeito Ele diz: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém chega ao Pai, senão através de mim.». Aquele que é o caminho não nos deixou errar em caminhos sem saída. A verdade não nos lançou à mentira. A vida não nos entregou ao engano que mata. E, porque Ele manifestou para nossa salvação os nomes doces do Seu acompanhamento: caminho para nos conduzir à verdade; verdade para nos estabelecer na vida, saibamos qual é o sacramento que nos conduz a essa vida: « ninguém chega ao Pai, senão através de mim», o caminho para o Pai passa pelo Filho. « Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o Pai.». Vemos o homem Jesus Cristo. Como é que, conhecendo-O, conheceremos também o Pai? No mistério do corpo que tomou, o Senhor manifesta a divindade que está no Pai; marca essa ordem: «Se me conhecerdes, conhecereis também o Pai, a partir de agora, conhecê-Lo-eis e tendê-Lo visto». Ele distinguiu o tempo da visão do do conhecimento, pois diz que já vimos aquilo que deveremos conhecer, para que recebamos através dessa revelação temporal o conhecimento da natureza que está nele... Vemos um homem, Ele proclama-se Filho de Deus. Ele afirma que aquele que o conhece conhece o Pai. Ele diz que o Pai foi visto e que é por ter sido visto que será conhecido.

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«A unidade natural dos fiéis em Deus, encarnação do Verbo e o sacramento da Eucaristia»
Realmente o Verbo de fez carne (Jo 1, 14) e de fato nós comemos o Verbo feito carne, no alimento do Senhor. Como, então, não julgar que permanece em nós com a sua natureza aquele que, nascendo homem, tornou a natureza da nossa carne inseparável de si mesmo e uniu a natureza da sua carne com a natureza divina, no sacramento que nos comunica a sua carne? Deste modo somos todos uma só coisa: o Pai que está em Cristo e Cristo que está em nós.
Está, pois, em nós por sua carne e nós estamos nele, uma vez que está em Deus, com ele, aquilo que nós somos.
Ele é quem atesta até que ponto estamos nele pelo sacramento da comunhão da carne e do sangue quando afirma: E este mundo já não me vê; mas vós me vereis, porque eu vivo e vós vivereis; porque eu estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós (Jo 14,19.20).
Se queria que entendêssemos apenas a união das vontades, por que distinguiu um certo grau e ordem, segundo os quais devia consumar-se a unidade? Certamente para que acreditássemos que, estando ele no Pai pela natureza divina e nós nele por seu nascimento corporal, ele está em nós pela ação misteriosa dos sacramentos.
É como se nos fosse ensinada a unidade perfeita que se realiza pelo Mediador: permanecendo nós nele, ele permanece no Pai e, permanecendo ele no Pai, permanece também em nós. Deste modo, poderemos chegar até à unidade com o Pai, pois ficaremos nele naturalmente, ele que está no Pai naturalmente, segundo o nascimento e que ficará em nós naturalmente.
Quão natural seja em nós esta unidade ele o atestou assim: Quem come minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele (Jo 6,56). Ninguém estará nele a não ser aquele em quem ele estiver, uma vez que só tem a carne que ele assumiu quem come de sua carne.
Mais acima já ensinara o sacramento desta perfeita unidade: Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, assim também o que come a minha carne viverá por mim (Jo 6,57). Portanto vive pelo Pai. E do mesmo modo como vive pelo Pai, nós vivemos por sua carne.
Presume-se que toda comparação se adapta à maneira de ser da inteligência, quer dizer: entende-se aquilo de que se trata de acordo com o exemplo que é proposto. Esta é, portanto, a causa de nossa vida: em nós, feitos de carne, temos a Cristo que permanece pela carne; e mediante sua humanidade vivemos daquela vida que ele recebe do Pai.

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«Eu não vim abolir mas cumprir»
Comentário sobre S. Mateus: Cristo é o cumprimento das Escrituras
A força e o poder destas palavras do Filho de Deus encerram um profundo mistério. A Lei, com efeito, prescrevia obras, mas todas essas obras, orientava-as para a fé nas realidades que seriam manifestadas em Cristo, pois o ensino e a paixão do Salvador são o grande e misterioso desígnio da vontade do Pai. A lei, sob o véu das palavras inspiradas, anunciou a natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Sua encarnação, a Sua paixão, a Sua ressurreição; os profetas tal como os Apóstolos ensinam-nos repetidamente que, desde os séculos eternos, todo o mistério de Cristo foi preparado para ser revelado no nosso tempo...
Cristo não quis que nós pensássemos que as suas próprias obras continham outra coisa que não fossem as prescrições da Lei. Assim o afirmou Ele próprio: «Eu não vim abolir, mas cumprir»,... pois em Cristo toda a lei e toda a profecia se consumam. No momento da Sua paixão , ... Ele declarou: «Tud o está consumado» (Jo 19,30). Nesse momento, todas as palavras dos profetas receberam a sua confirmação.
Cristo afirma também que mesmo o mais pequeno dos mandamentos de Deus não pode ser abolido sem ofensa a Deus. Aqueles que rejeitarem esses pequenos mandamentos, advertiu-nos Ele, serão os mais pequenos; serão os últimos e, por assim dizer, sem valor. Não há mandamentos mais pequenos que os mais humildes. E o mais humilde de todos foi a paixão do Senhor e a Sua morte na cruz.
«E não fez ali muitos milagres por causa da falta de fé deles»
Trindade, 12, oração final
Peço-te, Pai Santo, Deus Todo-Poderoso, conserva intacto o fervor da minha fé e, até ao último suspiro, concede-me conformar a minha voz às minhas convicções profundas. Sim, que eu conserve sempre aquilo que afirmei no credo proclamado aquando do meu novo nascimento, quando fui baptizado no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Concede-me que Te adore, a Ti, Pai nosso, e ao Teu Filho, que é um só Deus contigo; faz com que obtenha o Teu Espírito Santo, que de Ti procede, pelo Teu Filho único.
A minha fé tem a seu favor uma excelente testemunha: Aquele que declara: “Pai, tudo o que é Meu é Teu e tudo o que é Teu é Meu” (Jo 17, 10). Esta testemunha é o meu Senhor Jesus Cristo, Deus eterno em Ti, de Ti e contigo, Ele que é bendito pelos séculos dos séculos. Amén.

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«A vós, é-vos dado que conheçais os mistérios do Reino de Deus»
Tratado dos Mistérios, Prefácio
Toda a obra contida nos santos livros anuncia por palavras, revela por fatos, estabelece com exemplos, a vinda de Jesus Cristo nosso Senhor que, enviado por Seu Pai, se fez homem, nascendo de uma virgem por ação do Espírito Santo. Com efeito, durante todo o processo da criação, é Ele que, através de prefigurações verdadeiras e manifestas, gera, lava, santifica, escolhe, separa ou resgata a Igreja nos patriarcas: pelo sono de Adão, pelo dilúvio de Noé, pela justificação de Abraão, pelo nascimento de Isaac, pela servidão de Jacob. Ao longo da passagem dos tempos, numa palavra, o conjunto das profecias, essa realização do plano secreto de Deus, foi-nos dada por benevolência para o conhecimento da Sua incarnação futura...
Em cada personagem, em cada época, em cada acontecimento, o conjunto das profecias projeta como que num espelho a imagem da Sua vinda, da Sua pregação, da Sua Paixão, da Sua ressurreição e da nossa reunião na Igreja... A começar por Adão, ponto de partida do nosso conhecimento do gênero humano, nós encontramos anunciado desde a origem do mundo, em grande número de prefigurações, tudo aquilo que recebeu no Senhor o seu cumprimento total.

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“Sede perfeitos como o vosso Pai celestial é perfeito”
Sobre Mateus, 4, 27
“Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo.” Com efeito, a Lei exigia o amor ao próximo, mas permitia odiar o inimigo. A fé prescreve o amor aos inimigos. Através do sentimento universal da caridade, destrói os movimentos de violência que há no espírito do homem, não apenas impedindo a cólera de se vingar, mas também apaziguando-a, até fazer-nos amar aquele que não tem razão. Amar os que vos amam pertence aos pagãos, e toda a gente gosta de quem gosta de si. Cristo chama-nos, pois, a viver como filhos de Deus e a imitar Aquele que, pelo advento do seu Cristo, concede, seja aos bons, seja aos culpados, o sol e a chuva nos sacramentos do baptismo e do Espírito. Assim, forma-nos para a vida perfeita através deste laço de uma bondade para com todos, chamando-nos a imitar o Pai do céu, que é perfeito.

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«Com que autoridade fazes isso?»
De Trinitate, VII, 26-27
Pertence claramente ao Pai, este Filho que se parece com Ele. Vem dele, este Filho que podemos comparar com Ele, porque lhe é semelhante. É seu igual, este Filho que realiza as mesmas obras que Ele (Jo 5, 36). […] Sim, o Filho realiza as mesmas obras que o Pai; é por isso que nos pede que acreditemos que é o Filho de Deus. Não se arroga um título que não Lhe seja devido; não é nas Suas próprias obras que apoia esta reivindicação. Não! Dá testemunho de que não são as Suas próprias obras, mas as obras do Pai, atestando assim que o brilho dos Seus actos Lhe vem da sua origem divina. Mas como poderiam os homens ter reconhecido nele o Filho de Deus, no mistério desse corpo que Ele tinha assumido, nesse homem nascido de Maria? Foi para lhes encher o coração de fé em Si que o Senhor realizou todas estas obras. “Se faço as obras de meu Pai e não credes em Mim, crede nas Minhas obras” (Jo 10, 38).
Se a humilde condição do Seu corpo nos parecer um obstáculo para acreditarmos na Sua palavra, pede-nos que acreditemos ao menos nas Suas obras. Com efeito, por que haveria o mistério do Seu nascimento humano de nos impedir de perceber o Seu nascimento divino? […] “Se não credes em Mim, crede nas Minhas obras; para que conheçais e acrediteis que o Pai está em Mim e Eu nele” […].
Tal é a natureza que possui por nascimento; tal o mistério de uma fé que nos garantirá a salvação: não dividir aqueles que são um, não privar o Filho da Sua natureza e proclamar a verdade do Deus Vivo, nascido do Deus Vivo. […] “Assim como o Pai, que vive, Me enviou, Eu vivo pelo Pai” (Jo 6, 57). “Assim como o Pai tem a vida em Si mesmo, assim também concedeu ao Filho ter a vida em Si mesmo” (Jo 5, 26).

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«É permitido, no dia de sábado, fazer o bem?... salvar uma vida?»
Tratado sobre o salmo 91,3,4-5,7
O Senhor trabalha no dia de sábado? Com certeza, de outra forma o céu desaparecia, a luz do sol apagava-se, a terra pardia consistência, todos os frutos perderiam a seiva e a vida dos homem pereceria, se, por causa do sábado, a força construtiva do universo deixasse de agir. Mas, de facto, não há qualquer interrupção; durante o sábado, tal como nos seis outros dias, os elementos do universo continuam a cumprir a sua função. Através deles, o Pai trabalha, pois, todo o tempo, mas actua através do Filho que nasceu dEle e por quem tudo isto é a sua obra... Pelo Filho, a acção do Pai prossegue no dia de sábado. Por consequência não há repouso em Deus, pois que nenhum dia vê cessar a obra de Deus.
É assim a acção de Deus. Mas, então, em que consiste o Seu repouso? A obra de Deus é a obra de Cristo. E o repouso de Deus é Deus, é Cristo, pois tudo o que pertence a Deus está verdadeiramente em Cristo a tal ponto que o Pai pode descansar nEle.

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«Não compreendeis ainda? Tendes os vossos corações cegos?»
Tratado sobre a Trindade
Pai, Deus todo-poderoso, é a ti que devo consagrar a principal ocupação da minha vida. Que todas as minhas palavras e pensamentos se ocupem de ti. Porque somos pobres, pedimos aquilo que nos falta; faremos um esforço desmedido para entender as palavras dos teus profetas e dos teus apóstolos, bateremos a todas as portas que nos dêem acesso a uma compreensão que nos está vedada.Mas é a ti que cabe atender o nosso pedido, conceder o que procuramos, abrir a porta fechada. Na verdade, vivemos numa espécie de torpor por causa do nosso adormecimento natural; estamos impedidos de compreender os teus mistérios por uma ignorância invencível devida à fraqueza do nosso espírito.
Mas o zelo pelos teus ensinamentos fortalece a nossa percepção da ciência divina e a obediência da fé nos ergue acima da nossa capacidade natural para conhecer. Esperamos, assim, que tu estimules os começos desta difícil empresa, que a fortaleças com um sucesso crescente, que a chames a partilhar o espírito dos profetas e dos apóstolos. Quereríamos compreender as suas palavras no sentido com que eles as pronunciaram e empregar os termos exactos para transmitir fielmente as realidades que eles exprimiram. Concede-nos o sentido exacto das palavras, a luz da inteligência, a elevação da linguagem, a ortodoxia da fé; aquilo em que acreditamos, concede-nos que também o afirmemos. 

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«O Templo de que falava era o seu Corpo»
Tratado sobre o salmo 64
O Senhor disse. “Aqui será o meu repouso para sempre” e “escolheu Sião como lugar de sua morada” (Sl 131,14). Mas Sião e o seu templo foram destruídos. Onde se erguerá então o trono eterno de Deus? Onde será o seu repouso para sempre? Onde será o seu templo para que nele habite? O apóstolo Paulo responde-nos: “O templo de Deus sois vós; em vós habita o Espírito de Deus” (1 Co 3,16). Eis a casa e o templo de Deus; eles estão cheios da sua doutrina e do seu poder. São o habitáculo da santidade do coração de Deus.
Mas esta morada, é Deus quem a edifica. Construída pela mão dos homens, não duraria, nem mesmo se fosse fundada sobre doutrinas humanas. Os nossos vãos labores e as nossas inquietações não bastam para a proteger. O Senhor resolve as coisas de outra maneira; ele não pôs os seus alicerces sobre terra solta nem sobre areias movediças, mas assentou-a sobre os profetas e os apóstolos (Ef 2,20); ela é incessantemente construída com pedras vivas (1 Pe 2,5) e desenvolver-se-á até às últimas dimensões do corpo de Cristo. A sua edificação prossegue sem cessar; à sua volta erguem-se numerosas casas que se reúnem numa cidade grande e bem-aventurada (Sl 121,3).

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«Não é o filho do carpinteiro?... Ele não fez muitos milagres neste lugar, em virtude da falta e fé deles»
A Trindade, 12,52-53
Por tanto tempo quanto eu goze do sopro de vida que me concedeste, Pai santo, Deus todo poderoso, proclamar-te-ei Deus eterno, e também Pai eterno. Nunca eu me farei juiz do teu poder supremo e dos teus mistérios; nunca eu farei passar o meu conhecimento limitado à frente da noção verdadeira do teu infinito; nunca eu afirmarei que outrora exististe sem a tua Sabedoria, sem o teu Poder e o teu Verbo, Deus, o Unigénito, meu Senhor JESUS Cristo. É que mesmo sendo a linguagem humana fraca e imperfeita, ao falar de ti, ela não limitará o meu espírito ao ponto de reduzir a minha fé ao silêncio, por falta de palavras capazes de exprimir o mistério do teu ser...
Também nas realidades da natureza, há muitas coisas das quais não conhecemos a causa, sem contudo lhes ignorarmos os efeitos. E, quando, pela nossa natureza, não sabemos o que dizer dessas coisas, a nossa fé cora de adoração. Quando contemplo o movimento das estrelas..., o fluxo e refluxo do mar..., o poder escondido na mais pequena semente..., a minha ignorância ajuda-me a contemplar-te, pois, se não compreendo essa natureza que está ao meu serviço, distingo nela a tua bondade, mesmo pelo facto de existir para me servir. Eu próprio, apercebo-me de que não me conheço, mas admiro-te tanto mais... Deste-me a razão e a vida e os meus sentidos de homem que me causam tantas alegrias, mas não consigo compreender qual foi o meu começo de homem.
É, pois, não conhecendo aquilo que me cerca, que capto aquilo que és; e, percebendo aquilo que és, adoro-te. Por isso, quando se trata dos teus mistérios, o não os compreender, não diminui a minha fé no teu poder supremo... O nascimento o teu Filho eterno ultrapassa a própria noção de eternidade, é anterior aos tempos eternos. Nunca exististe sem ele... És o Pai eterno do teu Unigénito, antes dos tempos eternos.

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«Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco: o Espírito de verdade»
A Trindade, 2, 31-35
«Deus é espírito» diz o Senhor à Samaritana [...] ; sendo Deus invisível, incompreensível e infinito, não será num monte nem num templo que Deus deverá ser adorado (Jo 4, 21-24). «Deus é espírito» e um espírito não pode ser circunscrito, nem contido; pela força da sua natureza, ele está em todo o lado e de local algum está ausente ; em todo o lado e em tudo superabunda. Por isso é preciso adorar a Deus, que é espírito, no Espírito Santo [...].
O apóstolo Paulo outra coisa não diz quando escreve : «o Senhor é o Espírito e onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade» (2 Co 3, 17) [...]. Que cessem portanto os argumentos daqueles que recusam o Espírito. O Espírito Santo é um, por todo o lado foi derramado, iluminando todos os patriarcas, os profetas e o coração de todos quantos participaram na redacção da Lei. Inspirou João Baptista já no seio de sua mãe; foi por fim infundido sobre os apóstolos e sobre todos os crentes para que conhecessem a verdade que lhes é dada na graça.
Qual é acção do Espírito em nós? Escutemos as palavras do próprio Senhor : «Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora. É melhor para vós que Eu vá, pois, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas, se Eu for, Eu vo-lo enviarei. Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa» (Jo 16, 7-13) [...]. São-nos reveladas, nestas palavras, a vontade do doador, assim como a natureza e o papel d'Aquele que Ele nos dá. Porque a nossa fragilidade não nos permite conhecer nem o Pai nem o Filho ; o mistério da encarnação de Deus é difícil de compreender. O dom do Espírito Santo, que se faz nosso aliado por sua intercessão, ilumina-nos [...].
Ora este dom único que está em Cristo é oferecido a todos em plenitude. Está sempre presente em todo o lado e a cada um de nós é dado, tanto quanto O queiramos receber. O Espírito Santo permanecerá connosco até ao fim dos tempos, é a nossa consolação na espera, é o penhor dos bens da esperança que há-de vir, é a luz dos nossos espíritos, o esplendor das nossas almas.

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«Não sabes de onde ele vem nem para onde vai»
La Trinité, 12, 55s; PL 10, 472
Deus todo poderoso, o apóstolo Paulo diz que o teu Espírito Santo «perscruta e conhece as profundezas do teu ser» (1Cor 2, 10-11), e que intercede por mim, fala-te por mim através de «gemidos inefáveis» (Rom 8, 26)... Nada exterior a ti sonda o teu mistério, nada estranho a ti é tão poderoso para medir a profundidade da tua majestade infinita. Tudo o que penetra em ti provém de ti; nada do que é exterior a ti tem o poder de te sondar...
Creio firmemente que o teu Espírito Santo vem de ti pelo teu Filho único; ainda que não compreenda este mistério, tenho dele uma profunda convicção. É que, nas realidades espirituais que são o teu domínio, o meu espírito é limitado, tal como assegura o teu Filho único: «Não te admires se te disse: 'Deves nascer do alto, pois o Espírito Santo sopra onde quer; ouves a sua voz, mas não sabes nem de onde vem nem para onde vai'. Assim acontece a quem quer que nasça da água e do Espírito».
Creio no meu novo nascimento sem o compreender, e apoio na fé aquilo que me escapa. Sei que tenho o poder de renascer, mas não sei como isso acontece. Nada limita o Espírito. Ele fala quando quer, diz o que quer e onde quer. A razão da sua partida e da sua chegada permanece incógnita para mim, mas tenho a convicção profunda da sua presença.

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«Tu és... o Filho do Deus vivo»
Comentários sobre Mateus, 16
O Senhor tinha perguntado: "Quem dizem os homens que é o Filho do homem?" Naturalmente que o aspecto do seu corpo manifestava o Filho do homem mas, ao fazer esta pergunta, ele dava a entender que, para além do que se pudesse ver nele, havia outra coisa a discernir... O objecto da pergunta era um mistério para o qual se devia orientar a fé dos crentes.
A confissão de Pedro obteve plenamente a recompensa que merecia por ter visto naquele homem o Filho de Deus. "Feliz" é ele, louvado por ter alongado a sua vista para além dos olhos humanos, não olhando para o que vinha da carne e do sangue mas contemplando o Filho de Deus revelado pelo Pai dos céus. Foi considerado digno de ser o primeiro a reconhecer o que em Cristo era de Deus. Que belo alicerce pôde ele dar à Igreja, confirmado pelo seu novo nome! Ele torna-se a pedra digna de edificar a Igreja de forma a que ela rompa as leis do inferno... e todas as cadeias da morte. Feliz porteiro do céu a quem são confiadas as chaves do acesso à eternidade; a sua sentença na terra antecipa a autoridade do céu, de tal forma que o que tiver ligado ou desligado na terra sê-lo-á também no céu
Jesus ordena ainda aos discípulos que não digam a ninguém que ele é o Cristo porque vai ser preciso que outros, quer dizer, a Lei e os profetas, sejam testemunhas do seu Espírito, uma vez que o testemunho da ressurreição caberá aos apóstolos. E, assim como foi manifestada a felicidade daqueles que conhecem Cristo no Espírito, foi igualmente manifestado o perigo de se desconhecer a sua humildade e a sua Paixão.

IMPERDÍVEL!!!

PAPA FALA SOBRE RISCO DE ALIENAÇÃO DAS REDES SOCIAIS