segunda-feira, 5 de setembro de 2016

SUPERFICIALIDADE X PROFUNDIDADE

Paz e fogo, irmãos...
Depois de muito tempo, Deusme levou na escrita deste artigo, inspirado no último final de semana -
04/09/2016 - onde estive num encontro de formação do ministério de formação de minha Diocese atual: Santo  André.
No sábado (03/09), um dos formadores, de nome Paulo, da Diocese de Santos, nos contou uma história para basear sua colocação e foi exatamente nesta história que Deus fez nascer este artigo em meu coração.

Segue a história, que tentarei transcrever exatamente como nos foi contada:

"HAVIAM DUAS BONECAS DE SAL QUE SONHAVAM, UM DIA CONHECER O MAR.
ERA UM SONHO DE AMBAS, POIS JAMAIS HAVIAM VISTO O MESMO.
CERTO DIA, SURGIU ESTA POSSIBILIDADE DE TEREM SEU SONHO CONCRETIZADO E FORAM CONHECER O MAR.
AO CHEGAREM, AMBAS FICARAM MARAVILHADAS COM A BELEZA DO MESMO. 
UMA DELAS, TÃO DESLUMBRADA QUE ESTAVA FICOU PARALISADA CONTEMPLANDO DE ONDE ESTAVA, SEM SE MEXER... EXTASIADA COM A BELEZA DO MAR, SUAS ONDAS, A AREIA, O CÉU QUE SE UNIA ÀS ÁGUAS NO HORIZONTE, ENFIM, ESTAVA PETRIFICADA DIANTE DA CONCRETIZAÇÃO DE SEU SONHO E DA BELEZA DO QUE VIA.
POR OUTRO LADO, A OUTRA BONECA, IMPRESSIONADA TANTO QUANTO A OUTRA BONECA, AO CONTRÁRIO DA OUTRA, COMEÇOU A IR NA DIREÇÃO DA ÁGUA.
A OUTRA BONEQUINHA, PARADA, ACENAVA PARA ESTA, GRITANDO: 'EI! VOLTE! ONDE VOCÊ VAI? VOCÊ NÃO PODE IR ATÉ A ÁGUA!!!!'
A BONECA CONTINUOU SEU CAMINHO SEM SE IMPORTAR COM A GRITARIA DA OUTRA, ATÉ QUE CHEGOU COM A ÁGUA AOS TORNOZELOS, MARAVILHADA, ENTROU MAIS UM TANTO NA ÁGUA, CHEGANDO ATÉ OS JOELHOS... 
ENQUANTO ISSO A OUTRA BONEQUINHA, GRITAVA EM TERRA FIRME: 'VOLTE! É PERIGOSO!'
A BONEQUINHA CONTINUAVA SEU TRAJETO, DECIDIDA A EXPERIMENTAR AQUELA BELEZA ATÉ O ÚLTIMO INSTANTE POSSÍVEL, CHEGANDO COM A ÁGUA ATÉ OS QUADRIS... NESTE MOMENTO, ELA PÁRA, SE VOLTA PARA SUA AMIGA EM TERRA FIRME A ACENA, DANDO UM 'TCHAU', ENQUANTO SEGUE ADIANTE TENDO A ÁGUA JÁ PELO PESCOÇO E SENDO COBERTA PELA ÁGUA.
POR SER UMA BONECA DE SAL, AO CONTATO COM A ÁGUA, O MESMO VAI
DISSOLVENDO, DERRETENDO, SE MISTURANDO À MESMA.
FOI O QUE ACONTECEU. 
DISSOLVIDA NA ÁGUA, AQUELA BONEQUINHA SE FUNDIU À ÁGUA, SENDO IMPOSSÍVEL SEPARAR ELA DA ÁGUA, POIS JÁ NÃO SABIA QUEM ERA ÁGUA OU QUEM ERA A BONEQUINHA."

Vamos distinguir o que nos foi revelado através desta história?
Quando estávamos vagando pelo mundo, tínhamos sonhos, dos mais diversos: Ser reconhecido pelo sucesso de algo que fazemos, sermos artistas de renome, sermos ricos, empresários, respeitados na sociedade e reconhecido de forma respeitosa.
Talvez, nunca tivessemos sonhado em conhecer o mar como essas bonecas da história acima, mas com certeza, quando descobrimos e fomos encontrados por Jesus, num encontro, num grupo de oração, evento ou seja lá qual for o meio pelo qual Jesus nos encontrou, percebemos que nosso maior sonho era CONTEMPLAR ESSE MAR DE AMOR e mergulhar nele, tal a experiência que nos foi dada por Deus.
Como essas bonecas, podemos fazer um paralelo agudo diante da realidade que tenho conferido em vários lugares com várias realidades e pessoas inseridas nas mesmas.
Na Bíblia da CNBB, no Evangelho de Lucas, capítulo 5, versículo 4, Jesus, desconhecido ainda, após subir na barca de Pedro - que havia acabado de chegar de uma pesca frustrada - ensina o povo e, depois, pede a Pedro: "Rema lago adentro e joga as redes para pescar."
Já refleti sobre esta passagem há alguns anos num artigo aqui do blog e lá poderão ver detalhes da passagem em seu contexto.
Aqui nos cabe uma ordem dada a um pescador que acabava de conhecer esse "tal" Jesus, que lhe dá uma
ordem, com tamanha autoridade que a resposta de Pedro é compreensível: "Mestre, labutamos a noite inteira... porém, já que o dizes, jogarei as redes." (repito: a tradução é da Bíblia da CNBB)
Sabemos do desfeixe da história.
Porém, em nosso caminhar com Jesus, quantos de nós, por quantas vezes, também não ouvimos esta voz irresistível de Deus a nos chamar para algo profundo na Igreja, em determinado grupo, movimento, pastoral e diferentemente de Pedro, preferimos ficar como a boneca que contemplava a beleza do mar, imóvel, sem reação, apenas gritando para a outra boneca, cheia de atitude de abandono diante da beleza encantadora do mar, foi ao encontro do mesmo e, sem se preocupar com sua condição limitada de ser feita de sal, continuou a ir mar "adentro", dissolvendo-se aos poucos até se misturar ao mar e não ter mais como separá-la dele.
Assim acontece quando ouvimos a voz irresistível de Jesus a nos chamar, envolvendo-nos com Seu amor infinito e sedutor de nossas almas, começamos a caminhar, conhecer e amar a Igreja, por causa de Jesus!
Começamos a aprofundar nossos conhecimentos, muitas vezes, nos decepcionando com muita gente, por causa de muita coisa, mas estamos tão "mergulhados" em Cristo, que começamos a "dissolver" nossos egoísmos, ciúmes, decepções com as situações e pessoas, e percebemos que já estamos nos "assemelhando", ainda que em marcha lenta, ao próprio Cristo, que foi decepcionado por muitos, inclusive por seus apóstolos - haja visto as negações de Pedro - mas, preferiu a profundidade da vontade de Deus e,
"... apesar de sua condição divina, não fez alarde de ser igual a Deus..." (Filipenses 2, 6 - Bíblia do Peregrino), mas "dissolveu-se" na profundidade da obediência ao projeto de salvação do Pai para a humanidade, "por isso, Deus o exaltou e lhe concedeu um título superior a todo título, para que diante do título de Jesus, todo joelho se dobre, no céu, na terra e no abismo; e toda língua confesse para glória de Deus Pai: Jesus Cristo é o Senhor!" (Filipenses 2, 9-11 - Bíblia do Peregrino)
Se Jesus é nosso modelo que deve ser seguido, como sempre vejo nos encontros, animadores e pregadores (as), coordenadores e tantos outros, dizendo isso, que devemos seguir o modelo do Mestre Jesus, seus exemplos, e inclusive, nesse mesmo encontro que fiz, o qual citei a histgória, foi dito isso umas 4 ou 5 vezes; então irmãos, penso em minha pequenez quando orava por este artigo: Se somos chamados a imitarmos o Mestre e até temos agenda cheia, repleta de eventos e missões, a exemplo do Mestre, que não parava, porque ainda muitos se detém como a boneca que pára diante da beleza e não se move, diante da superficialidade da experiência feita e alimentada - superficialmente - durante muito tempo, ou mesmo, até hoje, é comum vermos muitos, mas muitos mesmo na superficialidade de Jesus.
Admiram nosso ministério! São fãs do ministério e missão de muitos outros!
Mas não se movem...
Vão em eventos onde "grandes estrelas" ou "grandes nomes" de evangelizadores que conquistaram a mídia cristã e hoje lotam eventos - não que isso seja errado! - páram na beleza do ministério e da missão e não vão na meta a missão e ministério precisam atingir! Falo isso como missionário!
Tenho dentro de mim, algo que me queima por dentro em querer ver os frutos daquilo que Deus me chamou a fazer. Anseio em cada pregação ou missão minha fora da pregação, que os testemunhos, os frutos apareçam - o que nem sempre acontece - e, assim como eu, penso que muitos, buscam cotidianamente uma maior intimidade com Jesus, ouvir Sua voz de forma total, clara, para não fugirmos de Sua vontade para nós. E quanto mais buscamos,parece que ainda estamos engatinhando... Ou não é assim?
Parar na superficialidade do ministério de algum irmão que, com certeza, para chegar onde chegou, teve e tem de pagar um  preço alto! Esse preço PROFUNDO, ninguém quer pagar!
Renúncia de família durante dias, às vezes!
Falta de conforto em várias missões, não por desleixo de quem chama, mas por causa das condições limitadas das pessoas... Quantas vezes não passamos por isso!
Mas, confesso, eu, Antonio Lucio, que esse preço da simplicidade acolhedora e limitada desses locais e irmãos, são eles que dão um sabor especial à profundidade do Cristo que buscamos!
Irmãos, não estou dizendo nada que desabone esses irmãos, que, com a graça de Deus, chegaram à alta visibilidade de seus ministérios, estão lá, graças a Deus, pois pagaram um preço para isso. Grande ou pequeno, o preço, não importa. Isso não nos cabe avaliar, pois quem deu o dom, a graça e o chamado, foi Deus e é com Ele que prestaremos contas se usufruimos de tudo isso bem ou mal, de coração puro ou não... Importa que, independente do grau de unção, verdadeira ou não, isso não é de nossa alçada, importa que saiamos da superfícialidade, saiamos da superfície confortável da admiração e passemos à profundidade da missão de seguir a voz do Mestre que nos pede, MAR ADENTRO e não superfície à fora!
Tenho visto uma superficialidade monstruosa em vários âmbitos da Igreja, que se fosse detalhar, este artigo se estenderia por páginas e páginas...
Pessoas que têm ostentado uma missionariedade confortável ou uma santidade "light", que ainda nem sequer é mostrada em atos, muitas vezes.
Perdoem-me se sou muito realista, mas falta muita profundidade e sobra superficialidade.
Conversando com uma pessoa de liderança, ela me confessava que durante seu mandato de coordenação de grupo de oração, de duração de 3 anos, ela tenta preparar o próximo(a) e não conseguia, pois ninguém queria o compromisso de um coordenador!
Num evento diocesano, um coordenador regional com mais de 10 grupos em sua região de pastoreio, contava com a presença de, no máximo 5 grupos representados!!!
Numa formação de ministério, nível diocesano, com um contingente de mais de 100 grupos de oração, não mais que 50, 60 pessoas, no  máximo, estourando com muito exagero, estavam neste encontro!
Não que números, quantidade sejam as prioridades, mas o comprometimento profundo com Aquele que nos chamou!
Não um comprometimento superficial, onde vou quando dá, ou quando me convém, ou quando alguém de minha preferência é quem irá ministrar o encontro ou evento!!!
Que coisa medonha quando nos deparamos com essa superficialidade percebemos os estragos que esta última causa num grupo, grande ou pequeno, não importa, mas os estragos existem e se refletem muito mais do que se imagina!
Percebemos as chagas na Igreja, onde muitos Padres mesmo, que desejariam contar com seus paroquianos e não podem, devido à superficialidade de suas experiências que geram descompromisso com o Cristo! Razão maior de tudo o que fazemos!
É com lágrimas neste momento destas linhas, que reclamo e proclamo meu inconformismo com tal superficialidade, fazendo eco a muitas lideranças da Igreja, ordenados, consagrados ou não.
Faço eco à voz de muitos que tenho ouvido dizer que não tem com quem contar.
Não há quem assuma pastoral ou ministério "A", "B" ou "C".
Esta tem sido a frase que tenho ouvido inúmeras vezes por várias intâncias de liderança por onde tenho passado.
Como ser pescador de homens sem profundidade, mar adentro, até se misturar com o Cristo e entender na alma o que Paulo quis dizer com "...já não mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim." (Gálatas 2, 20)
E olhem que esse Paulo descobriu e experimentou na carne essa profundidade de Cristo!
Basta entrarmos na profundidade de 2 Coríntios capítulos 10, 11, 12 e 13.
O testemunho desse homem, faz nascer uma vergonha em mim que me impulsiona a me aprofundar mais neste mar e ser essa bonequinha de sal que chega a se misturar com a água e ser uma só com o mar!
Quero ser essa boneca de sal e ir até o profundo, até me dissolver por completo!
É com lágrimas que desejo isso, irmãos!
Como me falta esse dissolver-se em Cristo!
Como desejo isso, Senhor!
Irmãos, a superficialidade tem tomado vários setores da Igreja, mas graças sejam dadas a Jesus, pois Ele faz nascer muitos também que são profundos em seu caminhar com Cristo!
Graças a Deus, muitos tem ido ao profundo desse mar e percebemos pelo seu testemunho o quanto se dissolvem em Cristo... Se anulam muitas vezes e, como eu, são incompreendidos, colocados de lado, boicotados, isolados, mas, em Cristo, alcançamos a compreensão, somos colocados no caminho Dele, somos reconhecidos pela meta que almejamos e não pela beleza do que fazemos, somos inseridos no Seu Coração Eucarístico... Irmãos, saiamos deste comodismo frouxo que nos paralisa na superfície de um sofá confortável e vistamos as sandálias da missionariedade, na profundidade que nos impulsiona a sermos OUTRO CRISTO, mais conhecidos como CRISTÃOS!
Não existe cristão superficial, pois o Cristo não foi superficial, mas um Cristo profundo, que chegou à profundidade da crucufixão para nos deixar a profunda e maravilhosa ressurreição de presente, que nos faz experimentar a salvação plena!
Superficialidade versus profundidade!
Alguns loucos já se levantaram, assim como tenho procurado fazer, para dar uma goleada na superficialidade de alguns, dentro e fora da Igreja, fazendo a profundidade de Cristo ser a c ampeã de nossas almas, desejosas de obedecermos e satisfazermos o desejo da Igreja de dar a Cristo DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS.
Deus nos faça crescer, não somente em número, mas a partir do número, também na qualidade e profundidade.
Paz e fogo. Muita unção e fome de almas!
Seu amigo e servo em Cristo Jesus, Antonio Lucio!