segunda-feira, 12 de setembro de 2011

SÃO MALAQUIAS DA IRLANDA E SUAS "PROFECIAS"

São Malaquias (em irlandês antigo: Malachy Máel Máedóc Ua Morgair; em irlandês moderno: Maelmhaedhoc O'Morgan) nasceu em 1904 na Irlanda. Ainda na adolescência tornou-se abade da Armagh. As suas visões começaram em 1139 na sua primeira viagem a Roma. Foi canonizado em 1199 pelo Papa Clemente III.
São Bernardo afirma que São Malaquias lhe disse a data da sua morte, dia 02 de novembro de 1148.
Ele afirmou que a Irlanda seria oprimida pela Inglaterra e que ao ser libertada seria importante para que a fé voltasse à Inglaterra.
PROFETAS E "PROFETAS": E AS PROFECIAS DE SÃO MALAQUIAS?

Em síntese: As "profecias" de S. Malaquias, que voltaram à baila por ocasião do último conclave pontifício, carecem do toda e qualquer autoridade, segundo os resultados da boa crítica histórica.

S. Malaquias (1095-1140) foi bispo do Armagh na Irlanda no século XII. Até o século XVI nenhum autor ou documento mencionou as suas "profecias"; estas foram ignoradas até 1595, quando o beneditino Arnoldo do Wyon as Inseriu no seu opúsculo "Lignum Vitae". Hoje em dia pode-se dizer que tal documento teve origem em 1590 durante o conclave  que devia eleger o sucessor de Urbano VII; entro os Cardeais mais em vista estava Simoncelli, cidadão do Orvieto e antigo bispo desta cidade; ora os amigos do Simoncelli quiseram favorecer a eleição deste prelado, apresentando  uma lista "profética" de 111 Papas em que o sufragado após   Urbano VII era o Papa "De antiquitate urbis" (Da antiguidade da cidade). Isto é, o Papa de Orvieto (= Urbs vetus, cidade antiga); em vista disto,    forjaram uma série de dísticos papais mais ou menos condizentes com a realidade desde Celestino II (1143-1144), mas assaz arbitrária após Urbano  VII. Todavia essa fraude foi vã, pois quem saiu eleito do conclave em 1590 foi o Cardeal Sfrondate, arcebispo do Milão, que tomou o nome de Gregório XIV.


Estes dados bastam para dissipar qualquer dúvida acerca da pretensa autoridade das "profecias" de São Malaquias.


Comentário: Estiveram mais uma vez em grande voga as ditas "profecias de S. Malaquias" por ocasião do último conclave papal em outubro 1978. A imprensa as mencionava como referencial para se predizer a identidade do futuro Papa; as conjeturas foram as mais variadas possíveis, pretensamente apoiadas também em outras fontes de prognósticos (Nostradamus e semelhantes). Verificou-se, porém, que os resultados foram totalmente diversos do que se previa - o que bem mostra que a S. Igreja transcende as cate¬gorias dos homens e, em última análise, é regida pelo próprio Deus; quem a queira considerar segundo critérios meramente humanos, arrisca-se a falhar, por completo, em suas perspectivas. Pode-se esperar que as lições do último conclave contribuam para avivar no público a consciência desta verdade.

Em vista da atualidade que continuam tendo as "profecias" de S. Malaquias (as quais preveem o fim do mundo para o ano 2000 aproximadamente), proporemos abaixo alguns dados que ajudem o leitor a julgar a autoridade de tal documento. Antes de mais nada, porém, será necessário esboçar


1.  O conteúdo   das  "profecias"


São Malaquias de Armagh (distinga-se bem do profeta S. Malaquias, do Antigo Testamento) nasceu na Irlanda em 1095 aproximadamente. Fez-se monge em Bangor, tornando-se depois arcebispo-primaz de Armagh. Veio a falecer em 1148.


É a esse santo que se atribui a famosa "Profecia dos Papas", a qual terá sido escrita em 1139, quando Malaquias passou um mês em Roma. Consta de 111 breves dísticos latinos, que tentam caracterizar a figura de cada Pontífice desde Celestino II (1143-1144) até Pedro II, que presenciará o fim do mundo. Esse texto, embora seja atribuído a um autor do séc. XII, só se tornou de conhecimento público em 1595, quando o beneditino Arnoldo de Wyon o inseriu no seu opúsculo "Lignum Vitae", publicado em Veneza naquele ano.


Os 111 dísticos no "Lignum Vitae" são acompanhados de breve comentário do historiador espanhol Alonso Ciacconio 0. P. (+ depois de 1601). O comentário aplica os dísticos da Profecia aos 74 Papas que governaram desde Celestino II (+ 1144), um dos contemporâneos de S. Malaquias, até Urbano VII (+ 1590); mostra como o conteúdo de cada oráculo se cumpriu adequadamente na figura de cada Pontífice a que é referido. O comentário de Ciacconio, indicando onde começa a série dos Papas considerados pelos dísticos, permite calcular aproximadamente a época em que se deverá dar o fim do Papado e a segunda vinda do Senhor;  assim contam-se 38 Pontífices desde Urbano VII (+ 1590) até o fim do mundo, sendo que o Papa João Paulo II, que vem a ser "De labore solis" (Da fadiga do sol) ainda terá dois sucessores, o último dos quais, Pedro II, verá, com a geração dos seus contemporâneos, a consumação da história.


2.     A autoridade  da  "Profecia"


A Profecia de Malaquias, logo depois de divulgada em 1595, obteve sucesso considerável. É inegável que os dísticos interpretados por Ciacconio se aplicam bem aos Papas desde Celestino II até Urbano VII.


Eis alguns exemplos mais característicos:


Avis Ostiensis  (Ave de Óstia) convém adequadamente a Gregório IX (1227-1241), que foi Cardeal-bispo de Óstia e tinha uma águia em seu brasão;


De parvo homine (Do pequeno homem) corresponde a Pio III (+ 1503), que se chamava Francisco Piccolomini (Pequeno homem);


Jerusalem Campaniae (Jerusalém da Campanha) designa bem Urbano IV (1261-1264), nascido em Troyes (Campanha) e Patriarca de Jerusalém.


De Urbano VII (+ 1590) em diante, Ciacconio não interpretou mais os oráculos. Muitos historiadores, porém, julgam que continuam a quadrar bem com as figuras dos Pontífices que se têm assentado sobre a Cátedra de Pedro.


Assim, para tomar exemplos recentes, indicar-se-iam


Crux de cruce (Cruz oriunda da cruz), dístico que designa Pio IX (1846-1878) com acerto, pois este Pontífice sofreu duros golpes da parte da Casa de Savoia, em cuja emblema figurava uma cruz;


Religio depopulata (Religião devastada) é o dístico bem adaptado a Bento XV (1914-1922), que durante o seu pontificado assistiu à primeira guerra mundial;


Fides intrepida  (Fé intrépida) corresponde a Pio XI (1922-1939), Pontífice das missões e defensor da verdade contra modernas teorias sociais e políticas;


Pastor et Nauta caracterizaria o Papa João XXIII ex-Patriarca de Veneza, cidade das gôndolas, reconhecido por sua ardente têmpera de Pastor de almas...


Admitida a veracidade da Profecia na base das observações acima, julgam alguns autores que o fim do mundo não está longe (talvez venha por volta do ano 2000), pois só deverá haver três Papas até a segunda vinda de Cristo:


De labora solis  (Da fadiga do sol) = João Paulo II.


De gloria olivae  (Da glória da oliveira).


Para terminar, diz o texto (após o 111º dístico): "Durante a derradeira perseguição, que a Santa Igreja Romana sofrerá, será Pontífice Pedro Romano, que apascentará as suas ovelhas em meio a muitas tribulações. Terminadas estas, a cidade das sete colinas será destruída, e o Juiz terrível julgará seu povo".

Procurando interpretar os dísticos acima, há quem queira prever a história dos tempos finais nos seguintes termos:

As divisas Pastor Angelicus (Pio XII), Pastor et Nauta (João XXIII) e Flos Florum (Paulo VI) indicam um período de grande paz e bonança para a religião (serão mesmo os nossos tempos? Parecem tão diferentes de tal previsão). Santidade angélica deveria florescer no Pastor e nas ovelhas da Igreja; o Pastor, sendo navegante, gozaria de grande prestígio no mundo inteiro e empreenderia viagens intercontinentais a fim de confirmar a pregação do Evangelho em toda parte (note-se, porém, que o grande viajante não foi João XXIII, o Pastor et Nauta, mas, sim, Paulo VI). Os três últimos dísticos insinuam os acontecimentos que deverão preceder imediatamente a manifestação do Anticristo; flagelos, como uma calamitosa expansão do islamismo (Lua crescente), apenas e fadigas sobre os filhos da luz (Sol); além disto, a almejada conversão dos judeus a Cristo (a oliveira simboliza o povo judaico em Rm 11,17-20). Depois disto, sob o Papa Pedro II, Cristo aparecerá como Juiz Universal...


Que dizer dessas conjeturas?


Carecem de autoridade. Usando de toda a objetividade, os bons críticos não hesitam em rejeitar a autenticidade da Profecia de Malaquias.


Quem primeiramente a impugnou apelando para argumentos ainda hoje plenamente válidos, foi o Pe. Ménestrier S. J., no seu livro "'Réfutation des Prophéties faussement attribuées à S. Malachie sur les élections des Papes"' (Paris 1689). Eis as principais razões desde então aduzidas contra a genuinidade das Profecias:


1) Durante cerca de 450 anos, isto é, desde S. Mala¬quias (+1148) até o opúsculo "Lignum Vitae" (1595), jamais autor algum fez alusão aos oráculos de S. Malaquias; nem os historiadores medievais e renascentistas, ao escrever a Vida dos Papas, mencionam tal documento, que certamente deveria ser citado, caso fosse conhecido. E por que motivo, em que circunstâncias, teria este caído em mãos de Ciacconio, seu comentador, após 450 anos de ocultamento? E como de Ciacconio terá sido transmitido a Wyon, que o editou pela primeira vez?


2)  Ao argumento do silêncio associa-se a verificação de faltas históricas e teológicas na Profecia de Malaquias. De fato, na lista dos Papas figuram antipapas (como Vitor IV, 1159-1164; Nicolau V, 1328-1330; Clemente VII, 1378-1394), efeito este que dificilmente se poderia atribuir à inspiração divina. A finalidade mesma da Profecia (insinuar a época do fim do mundo) parece contrariar à intenção de Cristo, que em mais de uma ocasião se negou a revelar aos homens a data do juízo final (cf. Mc 13,32; At 1,7). Além disto, a aplicação dos dísticos aos respectivos Papas baseia-se em notas por vezes acidentais na figura dos respectivos Pontífices, o que lhe dá um cunho de arbitrário; assim Nicolau V (legítimo Papa de 1447 a 1455) traz a dístico De modicitate lunae (Da pequenez da Lua) por ter nascido de família modesta no lugar chamado Lunegiana; Pio II (1458-1464) é assinalado "De capra et albergo (Da cabra e do albergue) por haver sido secretário dos Cardeais Capranica e Albergati!"


Positivamente podem-se indicar as circunstâncias que deram ocasião à falsificação: observe-se, antes do mais, que os dísticos dos Papas até 1590 aludem todos a traços concretos e particulares de cada Pontífice: lugar e família de origem, cargos exercidos antes da eleição, figuras dos brasões, etc. - De 1590 em diante, porém, os oráculos apenas referem qualidades morais, cuja aplicação é assaz vaga, podendo convir a mais de um Pontífice; assim "Vir Religiosus" (Varão religioso), Ignis ardens (Fogo ardente), Fides intrepida (Fé intrépida); qual Papa não mereceria esses qualificativos, caso não fosse de todo indigno?


Observada esta diferença, julgam alguns críticos que a "Profecia de São Malaquias" foi forjada justamente nesse ano de 1590, quando o falsificador já conhecia parte da história dos Papas que ele havia de caracterizar, ficando-lhe desconhecida a outra parte (a do futuro). O ensejo para se inventar a "Profecia" terá sido o conclave de 1590, após a morte de Urbano VII; o certame foi árduo, durando um mês e dezenove dias. Entre os prelados mais em vista, achava-se o Cardeal Simoncelli, cidadão de Orvieto e antigo bispo desta cidade; ora julga-se que as amigos de Simoncelli pretenderam favorecer a eleição deste candidato, apresentando aos interessados uma lista "Profética" de Papas em que o sufragado pelo Espírito Santo após o Pontífice Urbano VII era o Papa De antiquitate urbis (Da antigüidade da cidade), isto é, o Papa de Orvieto (= Urbs vetus = cidade antiga); em vista disto, terão forjado uma série de dísticos papais condizentes com a realidade desde Celestino II (no século XII), mas assaz arbitrária após Urbano VII. Essa lista, com a qual os mistificadores quiseram associar até mesmo o nome abalizado de São Malaquias, não logrou o desejado efeito, pois na verdade quem saiu eleito do conclave foi o Cardeal Sfrondate, arcebispo de Milão, que tomou o nome de Gregório XIV... É esta uma das explicações mais correntes dos motivos que terão inspirado a pseudo-profecia de S. Malaquias!


Ménestrier, na abra referida, cita outro caso semelhante ao de recurso à "autoridade divina" para decidir a eleição de um Papa. Após a morte de Clemente IX (1669), alguns adeptos do candidato Cardeal Bona, lembrando-se do texto de Eclo 15,1: "Quem teme a Deus, fará obras boas (bona)" (Qui timet Deum, faciet bona), espalharam o seguinte trocadilho:


"Grammaticae leges plerumque Ecclesia spernit:


Esset Papa bonus si Bona Papa foret".


"As leis da gramática, geralmente a Igreja as despreza.

Haveria um bom Papa, se Bona Papa fosse".

Diante destas observações da crítica abalizada, vê-se que vão seria evocar a "Profecia" de S. Malaquias, seja para ilustrar a história do Papado, seja para prever o decurso dos futuros tempos ou mesmo a época da segunda vinda de Cristo.

Fonte: Revista "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
D. Estevão Bettencourt, osb

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