quinta-feira, 25 de abril de 2024

EXORCISTA ESCLARECE O DOM DO DISCERNIMENTO

Certa vez, meu bispo perguntou-me por que um determinado grupo de oração na diocese atraía tanta gente. Eu respondi que era porque ele tinha um programa bem planejado para o ano inteiro e também um notável coordenador, apoiado por um núcleo unido e cheio de dons.

Era uma imitação de Jesus, que deixou um legado tanto de um plano de ação eficaz, como de um grupo unido de Doze, liderados por Pedro, para estabelecer seu reino na terra com o poder do Espírito Santo.

1 - NECESSIDADE DE DISCERNIMENTO

Depois, sendo perguntado quais seriam as qualidades ou os carismas de um coordenador, para que fosse constituído o fator mais importante de um grupo de oração, afirmei que seriam os de liderança, de trabalho de equipe e de discernimento. Um líder precisa ter, obviamente, o poder de liderar, de atrair outros para acompanhá-lo, tanto pelo que diz e faz como pelo que ele é, como os fundadores de nossas congregações religiosas. Mas, isso por si mesmo não é suficiente, porque o poder pode corromper e um líder pode tornar-se como nossos ditadores modernos ou chefe de seitas que levam os seus seguidores à destruição em massa e até então ao suicídio em massa.

Mas, um líder deve ter também a humildade de um seguidor, suficientemente gentil para reunir pessoas a ele fazendo-as sentirem seu valor, e, para motivá-las a trabalharem juntas, delegando-lhes seu poder. Isto é bem diferente de muitos grupos cristãos que continuam se multiplicando feito cogumelos, por causa de uma luta interior de poder e da falta de coerência interior. Acima de tudo, um líder precisa ser uma pessoa de visão e de discernimento, que não apenas tem seus "seguidores" atrás dele e com ele, mas, que também os conduza confiantemente e alegremente para o que está à frente dele, o Reino de Deus e sua Glória, pois "por falta de visão o povo vive sem freios" (Prov 29, 18).

Um líder cristão deve ser, sobretudo, um homem ou uma mulher de visão, assim como toda a congregação religiosa começou com uma pessoa que teve a visão do que Deus queria que ele ou ela fizesse e que, depois atraiu as pessoas a trabalharem juntas para implementarem esta mesma visão, que depois foi realizada através de uma variedade de obras e de instituições. Infelizmente, tem acontecido hoje que só as obras e as instituições permaneceram, enquanto o espírito da comunidade enfraqueceu-se gradualmente e a visão tornou-se há muito tempo uma relíquia do passado.

Portanto, o que torna autêntica a visão de um líder para o trabalho de seu grupo de oração ou de seu ministério, para a liderança de seu núcleo e para ele mesmo em sua posição como líder principal, é o carisma de Discernimento. Este é um Dom do Espírito Santo pelo qual a pessoa tem a capacidade de discernir se as mensagens e as visões, as decisões e as ações que afetam o trabalho do grupo ou do ministério, e as vidas pessoais de seus membros, estão de acordo com a vontade de Deus, embora pareçam muito santas e religiosas. São verdadeiramente inspiradas pelo Espírito Santo ou são resultados de preconceitos pessoais, gostos ou desprezos, trazendo à tona o que é apenas do espírito humano, ou até da influência do espírito maligno sob o disfarce de um anjo de luz (II Cor 11, 14)

2 - CRESCIMENTO NO DISCERNIMENTO

Para se abrir ao carisma do Discernimento e para crescer nele, o líder deve ser um homem ou uma mulher da Palavra. Como o Mestre, a Palavra feito carne, o líder deve de certa forma encarnar a Palavra de Deus em seus ensinamentos e decisões pois, talvez a única Bíblia que muitos lerão ou ouvirão seja a Bíblia Aberta que eles vêem em nós. Como líderes devemos nos comprometer a ler a Bíblia diariamente e, como Maria, guardá-la, meditar sobre ela e deixá-la produzir frutos em nossa vida, tornando-nos sal da terra e luz no alqueire. As profecias e as mensagens por si mesmas não podem ser substitutas de nossa intimidade com a Palavra de Deus (Jo 8, 31). Não podemos dar aos outros o que não temos. Se um cego conduzir outro cego, ambos cairão no buraco. Que o Mestre não diga de mim também, "Afasta-te, satanás, tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens!" (Mt 16, 23)

Um líder de discernimento deve também ser um homem de oração ou um homem do Espírito. Não apenas deve escapar das astúcias do demônio que o prendeu para realizar seus caprichos mas, Jesus deve agora "cativar seu coração e colocar aí o seu trono" (II Timóteo 2, 26). Foi quando Jesus estava em oração, que Ele recebeu o Espírito Santo para a missão (Lc 3, 21). Foi depois que os 120 devotaram os nove dias de espera à oração constante, que eles ficaram cheios do Espírito Santo que os capacitou a orar no Espírito. Quanto mais tempo o líder ficar em oração, mais o seu coração baterá em uníssono e no mesmo ritmo que o Sagrado Coração de Jesus e terá seus desejos e sentimentos (Mt 11, 29).

O líder de discernimento também deve pensar e sentir com a Igreja, que é a família de Deus, o Corpo de Cristo e o Templo do Espírito Santo. Eu sou muito ecumênico no meu modo de pensar (escrevi uma dissertação sobre o ecumenismo para o Bacgarelato em Teologia em Roma), no meu coração (o Reverendo David du Plessis foi e o Reverendo Vinson Synan é um grande amigo meu) e no meu ministério (quantas vezes partilhei do mesmo palco nas convenções carismáticas com meus irmãos líderes Protestantes e Pentecostais) mas, ainda estou convencido de que a Igreja Católica tem a totalidade da Verdade e é a Renovação Carismática Católica que tem me feito apreciar e a dar valor a tantos ensinamentos especificamente católicos. O líder será capaz de discernir melhor, quanto mais ele conhecer os ensinamentos da Igreja, como expressos nos documentos do Concílio Vaticano II, no Catecismo da Igreja Católica, e outros mais, em vez de se apoiar arrogantemente em sua própria interpretação das Escrituras ou em alguma revelação, mensagem ou visão particular.

3 - PRINCÍPIOS DE DISCERNIMENTO

Se um paciente for ao médico queixando-se de febre, o médico não lhe dará um remédio imediatamente mas, primeiro fará um diagnóstico para descobrir a doença da qual a febre é apenas um sintoma. Um diagnóstico errado pode resultar em paralisisa e até em morte. Quanto mais importante é o diagnóstico espiritual ou discernimento. Então, quais são os princípios de um discernimento de confiança?

Primeiro, que o que for pensado, falado ou realizado, deve ser de acordo com a Sagrada Escritura e não ser contrário à sua interpretação reconhecida no magistério ordinário da Igreja.

Segundo, deve haver um profundo sentimento de paz dentro da pessoa por ela estar agindo de acordo com a inspiração do Espírito Santo, falando através de palavra de sabedoria e de palavra de conhecimento. Ao mesmo tempo há uma confirmação interior, tanto de sua experiência anterior como de conhecimento ganho através de livros e conferência. Terceiro, o próprio Senhor muitas vezes confirma a ação, fechando umas portas e abrindo outras, enquanto a comunidade, por sua vez, confirma a ação dando sua aprovação depois talvez devido à consulta com aqueles que têm mais experiência no assunto. Quarto, a confirmação final virá dos frutos e dos resultados da ação realizada, tanto a longo como a curto prazo. (Mt 7, 20)

4 - ÁREAS DE DISCERNIMENTO

Pessoal: Primeiro, o líder tem muitas vezes que discernir se o Senhor o está chamando a uma posição de liderança no grupo de oração ou na comunidade ou num ministério específico, ou se está sendo chamado a sair da posição que está ocupando agora. Num grupo de oração, um membro se ofereceu como possível candidato a coordenador, embora na avaliação de todos, ele fosse o menos adequado. Muitas vezes, uma pessoa sente que o Senhor a está chamando a deixar o seu trabalho para se dedicar ao ministério em tempo integral, e pode estar sendo levado por motivos errados de poder e escapismo. Outra decisão importante que um lider terá de fazer é na escolha dos membros certos para o núcleo e para os ministérios. O próprio Jesus passou uma noite inteira em oração antes de escolher seus apóstolos (Lc 6, 12-13).

Ministérios: Há necessidade que o líder faça revisão constante, em discernimento, dos sinais, dos dons, da palavra e dos dons de poder. Quanto aos sinais, enquanto alguns líderes crêem que, por exemplo, "repousar no Espírito" é uma atividade normal do Espírito Santo e é para ser incentivada, outros acham que não deve ser procurado porque o verdadeiro "repouso no Espírito" é muito raro. Talvez a verdade esteja no meio-termo.  Este sinal externo não é um fim em si mesmo e pode-se aceitá-lo como autêntico, se houver razão para isto, sem expectativas desnecessárias ou manipulação física ou emocional, ou se há uma mudança significativa na vida da pessoa depois de uma tal experiência.

Quanto aos dons da Palavra, como profecias e palavras de conhecimento, se o objetivo é mais do que um encorajamento, mas também direção e advertência, precisa-se de um discernimento mais cauteloso com alguma confirmação não muito distante. Tempos atrás, em 1976, em Bombaim, eu estava orando por uma menina que tinha sido oprimida pelo demônio mas, que agora estava bem próxima de Jesus. De repente, ela falou em transe, "Rufus, meu filho, quero que você traga todos os meus padres para a Renovação Carismática". Eu ainda não tinha dado nenhum retiro para o clero sozinho.

De fato, eu estava com muito medo e me sentia totalmente inadequado a pregar para padres e rejeitei aquela "mensagem" ou "profecia" como maluca - até a semana seguinte, quando fui convidado a dar o meu primeiro retiro para sacerdotes sozinho e, depois de cinco anos, eu já tinha dado retiros carismáticos para o clero para a metade das 130 dioceses da Índia.
Quanto aos Dons de Poder, por exemplo o de libertação, julgamentos a priori de ambos os extremos devem ser evitados. É errado dizer que uma pessoa precisa de libertação se realmente necessita principalmente de tratamento psiquiátrico ou de terapia psicológica, assim como é cruel rotular a pessoa de histérica ou esquizofrênica se realmente está sob uma atividade demoníaca.

Mas, mesmo que se trate disso, não podemos aceitar a pessoa em questão ou os pedidos de libertação de sua família sem primeiro discernir os sinais observáveis da suposta atividade demoníaca. Isto também não é suficiente, pois os sinais de opressão demoníaca e da doença emocional e mesmo da doença física são tão semelhantes, e a linha divisória entre eles e tão fina, que podemos nos enganar facilmente. É neste ponto que precisamos de discernimento espiritual interior, que muitas vezes é confirmado pela reação do paciente aos objetivos santos. O desaparecimento final dos sinais de influência demoníaca e o crescimento significante na qualidade espiritual da vida daquela pessoa provarão que o discernimento inicial estava correto.

Em maio do ano 2000, eu estava dando um seminário e um retiro sobre cura interior e libertação num país dos Bálcans. Uma jovem, aparentemente oprimida ou possuída, que havia sido orada quase diariamente com exorcismo por muitos meses, estava ali sendo orada pelos 70 padres participantes do retiro, durante duas horas, sem nenhum efeito aparente ou imediato. Todos nos sentimos incapazes até que, orando por discernimento, o Espírito mostrou-me porque ela ainda não tinha sido libertada, a natureza da maldição lançada sobre ela, o que ela precisava fazer para ser liberta e como nós tínhamos que orar. Agindo conforme o discernimento do Espírito, ela foi completamente liberta em cinco minutos, para grande alegria do Arcebispo, dos sacerdotes e do povo daquela diocese. Como nos lembra a Palavra de Deus: "Examinai os espíritos" (I Jo 4, 1) - mas "não extingais o Espírito" (I Tess 5, 19).

Padre Rufus Pereira.

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