Com as palavras “Maria
Concebida Sem Pecado” confessamos, que Maria,
por uma exceção especial, em virtude dos
futuros merecimentos de cristo, desde o primeiro instante de sua
vida ficou isenta do pecado original e revestida foi da graça
santificante. Não é assim com as outras
criaturas humanas.
Desde o princípio da nossa existência, carecemos
da graça santificante, sendo que esta graça estatui um
verdadeiro pecado, não pessoal, é claro, mas um pecado da natureza,
chamado pecado original por ser uma
conseqüência do pecado dos primeiros
pais.
O mistério da
Imaculada conceição, exclui o pecado,
isto é, o pecado original e
conseqüentemente duas coisas, inseparavelmente ligadas a este:
A desordenada concupiscência e o pecado pessoal;
inclui, porém, a
posse da graça santificante.
O que tem nome de pecado, é
a ausência culpada da graça
santificante. A presença desta significa a ausência, a extinção
daquele. Maria,
desde o princípio era
possuidora da graça santificante
e, junto com esta, de todos
os bens que a acompanharam,
isto num grau não comum, mas numa abundância tal, que Santo nenhum até
o fim de sua vida chegou a possuí-la. Inerente a
este dom da graça santificante se achava
outro privilégio, o da perseverança final. Também Eva possuía
inicialmente a graça
santificante; perdeu-a, porém,
pela transgressão do Mandamento de Deus. Não assim Maria.
Na sua vida não houve um momento sequer, em
que se visse privada
da graça de Deus; pelo
contrário: esta lhe
crescia de maneira tão exuberante, que não podemos
dela formar idéia.
A alma, ou o coração
de Maria no mistério da Imaculada Conceição não é comparável a um
recipiente, puro sim, e sem mácula, destituído entretanto de qualquer
adorno; antes se
assemelha com um vaso riquíssimo transbordando de todas as
espécies de tesouros
e preciosidades da ordem sobrenatural;
obra-prima, maravilhosa da terra e
do céu, da natureza e da graça
de Deus e a complacência do divino artífice seu Criador.
Não como nós,
pobres filhos de
Eva, desfigurados pelo pecado, semelhantes a tristes espinheiros,
crestados pelo sol, Maria pelo contrário se ostenta bela,
luminosa, envolta em claridade
celestial, qual lírio puríssimo, encanto dos Anjos e dos Santos
do céu. “Como a açucena
entre os espinhos, assim é a minha amiga entre as
donzelas”. (Cant. 2,
2)
O mistério da Imaculada
Conceição é de suma importância, sem restrição alguma, belo e
glorioso.
É uma glória
para Deus, para a Santíssima Trindade. O Pai é a majestade, a suma do
poder, a autoridade sem par, criadora, vivificadora, legisladora e
governadora. Este poder, porém, consiste
não só em dar leis e aplicar castigos, como também em isentar
da lei e agraciar, quando e
da maneira que lhe apraz.
Cometido o primeiro
pecado no Paraíso, para todos os filhos
de Adão foi criada a lei da morte espiritual, da privação, da graça
santificante para o primeiro momento da vida, lei da qual isenta
só ficou Maria, em atenção à sua missão excepcional e única, à sua futura vida, a nossa
vida pela maternidade divina.
O Filho é a sabedoria
e a Redenção. O sangue de Cristo é o remédio contra a morte do
pecado. Em Maria, porém, produziu um efeito extraordinário. Em todos
os outros homens tira o
pecado, extingue-o e restabelece o estado da graça.
Em Maria, porém, teve este efeito desde o princípio. A
Imaculada Conceição é, portanto, o fruto mais nobre e
grandioso da morte do Salvador, como também prova do grande amor
de Jesus a sua Mãe. O
Espírito Santo é a bondade,
o amor e a generosidade de Deus
em distribuir bens naturais e sobrenaturais.
Na Imaculada Conceição este Divino Espírito manifesta uma
bondade inesgotável, não só em ter adornado Maria de bens naturais
extraordinários, como também, e principalmente em tê-la
enriquecido de dons e graças divinas.
Pelo curso normal o Espírito Santo dá a graça santificante
depois do nascimento, no
sacramento do batismo. Muito poucos são os que foram santificados,
quando ainda no seio da mãe, assim São João Batista e talvez São José;
mas só Maria desde o primeiro momento da sua vida gozou deste
privilégio. Todos os demais, o Espírito Santo santifica num determinado grau:
Maria, porém, foi agraciada de uma maneira tão abundante, que
da plenitude das graças, a Ela
dispensada, não se pode fazer idéia.
Desta forma o mistério
da Imaculada Conceição constitui uma glorificação da SS. Trindade. Não
menos glorioso e de suma importância ele é também para Maria. A
Imaculada Conceição é o fundamento da grandeza e magnificência
desta, em três sentidos. Primeiro: É o fundamento da sua santidade. A
santidade consiste antes de tudo na isenção de todo o pecado, na posse
da graça santificante e das virtudes e dons concomitantes. Preservada que foi do pecado original, Maria ficou livre também
do pecado pessoal. Em sua Conceição recebeu uma harmonia tal de todas
as energias físicas e morais, um temperamento tão particularmente
eficientes, que em toda a sua vida nunca houve manifestação de
concupiscência; por isto pecado venial, nenhum, por mais leve que
fosse, cometeu. É esta a doutrina de Santo Agostinho e do Concílio de
Trento. O tesouro da santidade da Mãe de Deus, sempre aumentando,
cresceu a graus incalculáveis, uma vez pelo afluxo de graças
extraordinárias, como também pela sua fidelíssima cooperação e as
circunstâncias especiais da sua vida. Toda essa riqueza
incomensurável tem sua razão, seu fundamento na Imaculada Conceição.
Em segundo lugar é este mistério a condição preliminar e
preparação adequada para a excelsa dignidade que Maria possuía, de Mãe
de Deus e Rainha do céu e da terra. Como o Salvador em sua tenra infância
poderia unir-se tão estreitamente, e tão intimamente descansar junto a
um coração que, por um momento aliás, tivesse
sido morada e domínio de Satanás?
Como poderia ela, sua rainha,
se apresentar aos
coros dos Anjos, que nunca perderam a graça santificante, se pelo
pecado tivesse sido escrava do demônio?
Na Imaculada Conceição,
o poder de Maria Santíssima tem o seu fundamento. Pureza, inocência e
santidade são valores por Deus muito apreciados, valores a que é
atribuído certo poder imperativo junto à divina majestade. Com quanto
mais razão deve-se isto afirmar da pureza de Maria que, nem por sombra
de pecado sequer empanada, realmente é o reflexo da luz eterna,
o espelho sem mácula, a imagem da divina bondade! (Sab 7, 26). Numerosas, grandes e admiráveis
são as prerrogativas deste ser abençoado: O nascimento virginal do
Salvador, a integridade perfeita e a incorruptibilidade do corpo, a
ressurreição e assunção antes do dia do juízo e da consumação dos
séculos. De todas estas exceções é a da Imaculada Conceição por
Maria a mais apreciada. As demais prerrogativas necessárias, eram
concedidas sob certas suposições, e sempre condicionalmente; mas o
privilégio de por nenhum momento se achar sujeito ao pecado, este sob
todos os pontos de vista, era necessário, indispensável. Ainda mais:
Diante da hipótese de poder escolher qualquer distinção, a
todas ela poderia renunciar, menos a da Imaculada conceição. Por isto,
na missa deste dia, a
igreja põe nos lábios de Maria as
seguintes palavras: “Regozijar-me-ei
no Senhor e minha alma exultará de alegria em meu Deus;
porque me revestiu com vestimenta de salvação, e me cobriu com
o manto de santidade, como
uma esposa com suas
galas” (Is. 61, 10) . “Louvar-vos-ei,
Senhor, porque me livrastes
e não deixastes que meu inimigo zombasse de min. (Sal 29, 3)
O mistério da Imaculada
Conceição é de suma importância para nós, para a Igreja, para o
mundo inteiro. Sua solene proclamação como dogma em 1854, foi um
progresso, um novo elo na evolução da nossa fé. Não é este dogma
uma invenção da Igreja.
Antiqüíssimo, fazia parte das verdades reveladas, estava incluído no depósito da fé. Até
aquele ano, o católico
tinha liberdade de crer ou não crer na Imaculada
Conceição; podia
rejeitar esta doutrina, sem incorrer numa heresia.
Houve de fato doutores da Igreja e Santos que não a aceitaram.
Hoje o mundo inteiro está convencido da verdade do mistério: A criança
que sabe seu catecismo, pensa sobre esta doutrina com mais acerto que
aqueles grandes
teólogos e espíritos de escol e iluminados.
O mistério e
sua elevação a dogma é a confirmação
de uma nova declaração da lei moral sobrenatural, que somos destinados
à uma vida sobrenatural; que
a graça é-nos indispensável para alcançar este
fim; que a perda culposa e a
falta de graça é a essência do pecado, e todos, com exceção de
Maria, como filhos de Adão, estamos sujeitos ao pecado.
Tudo isto o dogma da Imaculada Conceição diz e ensina ao mundo
materializado e ímpio. Portanto, sua proclamação é um solene
protesto contra o racionalismo e materialismo;
é a condenação destas ideologias,
que não querem saber da verdade e ordem sobrenaturais;
que rejeitam a doutrina sobre o pecado, a redenção e tudo que
se eleva acima da vida material e da
observação sensitiva. Ao mesmo tempo,
apresentando Maria como ente perfeitíssimo na ordem da graça,
é para nós animação poderosa a nos aproximar desta ordem, e a nossa
vida ordenar segundo seus princípios.
Finalmente descobrimos
no mistério da Imaculada Conceição um penhor da graça e da bênção divinas para o mundo nosso contemporâneo. Seus
pecados são muitos e graves. Basta
apontar os seguintes: Impiedade,
dissolução de costumes, revolta
contra Deus e a autoridade
legitimamente estabelecida, perseguição contra a Igreja. Um grande
merecimento, entretanto, não lhe pode ser negado: o de ter aceito o
dogma da Imaculada Conceição, e com esta homenagem ter adornado a
cabeça de Nossa Senhora com uma coroa de incomparável e
indestrutível valor. A Pobre humanidade
pode, portanto, esperar por uma resposta amável e misericordiosa
daquela que é sua Mãe. Uma grande graça o mundo já experimentou, que
pode ser considerada favor do céu e efeito da intercessão da Santíssima
Virgem. As circunstâncias em que se realizou a proclamação dogmática
da Imaculada Conceição, já eram um prelúdio da dogmatização da
infalibilidade do Papa. Quando
Pio IX, a 8 de dezembro de 1854,
na Basílica de São Pedro proclamava a bula da
Imaculada Conceição, alguns
bispos presentes exclamaram: “É isto a
infalibilidade do próprio Papa”.
Tinham eles razão, porque o papa, sem ter assistência de um
Concílio, por sua própria autoridade fez esta proclamação.
Poucos anos depois o
Concílio Vaticano elevou a Dogma a infalibilidade pessoal do papa.
Desta maneira, Maria Santíssima retribuiu honra com honra, e deu à
igreja o remédio mais necessário para curar os males dos nossos dias.
Assim, o mistério da
Imaculada Conceição projeta raios de luz em todas as
direções: raios de
glorificação a Deus, sobre a SS. Trindade, cuja essência e bondade tão
admiravelmente revela; raios
de louvor e honra sobre Maria, cujas prerrogativas e
santidade tão prestigiosamente desvenda;
raios de bênção, de graças e de consolações para o mundo, tão
necessitado de uma Mãe e poderosa protetora.
Terminando esta meditação,
três resoluções se nos impõe:
Primeiro: de
dar graças à SS. Trindade por tudo que de grandioso e de bom no
mistério da Imaculada conceição operou para sua maior glória, em
benefício de Maria e para nosso proveito. Regozijemo-nos.
“O grande sinal, a mulher vestida
de sol, tendo a lua aos pés e a coroa
de estrelas cingindo a sua cabeça”, apareceu. O dragão fugiu,
voltando às trevas e ao desespero.
Graças demos a Deus e, a Maria,
apresentemos as nossas
felicitações. Realmente:
“ Tota pulchra es Maria, et
macula originalis non es in te”. -
Toda sois formosa, sem a mancha do pecado original.
Segundo: De
a Deus,
por Maria pedir à Igreja, ao mundo inteiro e
a nós todos, advenham as bênçãos
que por este mistério Deus intencionava espargir. Muitos benefícios já
recebemos; outros tantos
esperamos que nos sejam feitos por intermédio da Virgem Mãe Imaculada.
Terceiro: De
encher-nos de ódio e repugnância ao pecado e de veneração à
graça santificante.
A Imaculada Conceição
é o mistério da paz e do
perdão. O pecado original é o menor entre os pecados graves de que
podemos ser inculpados. Mas
nem este o Salvador tolera.
Quanto mais intimamente ele se liga a uma criatura humana, tanto mais
longe dela deve o pecador ficar. Por isto, e completamente do pecado
isentou sua Mãe. Deve ser
para nós forte incentivo de fugirmos do pecado, de dar todo valor à
graça e a conservar. Nossa honra, nossa riqueza, nossa formosura e
nossa felicidade consistem unicamente na graça
santificante.
No mistério da
Imaculada Conceição encontramos o auxílio para adquirir esta graça e
a conservar. É para nós o penhor da esperança, da consolação, do
conforto e da vitória,
como o tem sido para a humanidade desde o princípio da sua existência.
À Virgem Imaculada recorramos, quando a tentação de nós se aproxima.
Neste sinal, terrível que é para o inferno, e para nós prometedor,
teremos a vitória final e a salvação.
REFLEXÕES
Por um privilégio
especialíssimo Maria Santíssima ficou isenta da culpa original. A alma
da Mãe foi criada no estado da graça santificante e
nesta permaneceu. Graça
igual não recebeste. Concebido em pecado, em pecado nasceste.
Mas Deus purificou tua alma, no sacramento do batismo. Milhares e
milhares não tiveram esta graça. No céu não puderam entrar, porque
nada de impuro lá entra. Por
que te concedeu Deus, em sua infinita bondade, a graça do batismo?
Quanta gratidão deves, pois, a
Deus tão bondoso, por te ter dado tamanha distinção! O batismo, porém,
é somente a primeira graça que recebeste do Criador, para alcançares
a vida eterna. Deve-se aliar-lhe uma vida santa, de perfeito acordo com
os Mandamentos da Lei de Deus. “Aquele que disse ser necessário o
batismo, o renascimento da água e do Espírito Santo, disse também: Se
vossa justiça não for maior que a dos fariseus e dos escribas, não
entrareis no reino dos céus!” (Santo
Agostinho)
|
"Pois a fé vem da pregação e a pregação é pela Palavra de Deus" (Romanos 10, 17)
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Dogma da Imaculada Conceição
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