Extraído dos escritos de Santo
Antônio Maria Claret. Tradução do espanhol feita pelo Diácono Luiz Carlos
Pavan.
A sensação dos tormentos do
inferno é essencialmente terrível.
Ele se parece, ó alma minha, como
uma noite escura sobre o cume de uma montanha alta.
Lá embaixo há um vale profundo, e
a terra se abre de maneira que, com o teu olhar, podes ver o inferno e sua
profundidade. Ele se parece como uma prisão situada no centro da terra, muitos
quilômetros abaixo, todo cheio de fogo, preso num recinto de forma tão
impenetrável que, por toda a eternidade, nem se quer a fumaça pode escapar.
Nesta prisão os condenados estão
próximos um do outro como tijolos num forno...
Imagine o calor do fogo em que
são queimados.
Primeiramente, o fogo se alastra
por todas as partes e tortura inteiramente o corpo e a alma. Uma pessoa
condenada permanece no inferno para sempre no mesmo lugar que foi destinado
pela justiça divina, sem ser capaz de mover-se, como um prisioneiro num tronco.
O fogo que o envolve totalmente,
como um peixe na água, o queima em volta, à sua esquerda, à sua direita, encima
e embaixo. Sua cabeça, seu peito, seus ombros, seus braços, suas mãos e seus
pés estão totalmente invadidos pelo fogo, de maneira que ele, por inteiro, se
assemelha a um peça de ferro incandescente e cintilante, que acaba de ser
retirado do forno. O teto do recinto em que moram as pessoas condenadas é de
fogo; a comida que se come é fogo; a bebida que se toma é fogo, o ar que se respira
é fogo, tudo quanto se vê e se toca é fogo...
Mas este fogo não está
simplesmente fora dele; além do mais ele transpassa pela pessoa condenada.
Invade o seu cérebro, seus dentes, sua língua, sua garganta, seu fígado, seus
pulmões, seus intestinos, seu ventre, seu coração, suas veias, seus nervos,
seus ossos, inclusive a medula, bem como o sangue.
“No inferno – segundo São
Gregório Magno – haverá um fogo que não pode se apagar, um verme que não morre,
um cheiro insuportável, uma escuridão que pode se sentir, castigo por açoite de
mãos selvagens, com todos os presentes desesperados por qualquer coisa boa.”
Um dos fatos mais terríveis é
que, pelo poder divino, este fogo vai tão longe como para atuar sobre as
faculdades (aptidões) da alma, queimando-as e atormentando-as.
Suponhamos que eu me achasse
colocado no forno de um ferreiro, de modo que todo o meu corpo estivesse em
pleno ar, exceto um braço que está posto no fogo, e que Deus fosse preservar a
minha vida por mil anos nesta posição. Não seria isto uma tortura insuportável?
Como seria então estar completamente invadido e rodeado de fogo, o qual não
atinge apenas um braço, mas inclusive todas as faculdades (aptidões) da alma?
Para quem já teve a graça de ver,
e de sentir, em sonhos o que seja este tormento infinito, este fogo que queima
o espírito sem consumir, esta consciência que acusa sem cessar, que atormenta
mais que mil fogos, que faz compreender a eternidade do suplício, que entende a
impossibilidade de fugir dali, contra a qual não adianta lutar, esbravejar,
sequer odiar, é possível afirmar que o fogo exterior, que queima o corpo é
apenas uma pálida centelha daquele que inflama o espírito. De fato, a alma
daria tudo para poder esquecer, fugir dos pensamentos, escapar deste tormento
mental, esmagar seu cérebro, pois para ela isso significaria um alívio
assombroso em seu tormento.
É mais espantoso do que o homem
pode imaginar.
Em segundo lugar, este fogo é
muito mais espantoso do que o homem pode imaginar. O fogo natural que vemos
durante esta vida tem um grande poder para queimar e atormentar. Não obstante,
este não é nem sequer uma sombra do fogo do inferno. Há duas razões pelas quais
o fogo do inferno é muito mais atroz, que vai além de toda comparação, do que o
fogo deste mundo.
A primeira razão é a justiça de
Deus, da qual o fogo do inferno e um instrumento dirigido para castigar o mal
infinito causado contra a sua suprema majestade, que fora menosprezada por uma
criatura. Para tanto a justiça supre este elemento com um poder tão grande que quase
alcança o infinito.
A segunda razão é a malícia
(perversidade) do pecado. Como Deus sabe que o fogo deste mundo não é
suficiente para castigar o pecado como este merece, Ele tem dado ao fogo do
inferno um poder tão grande que nunca poderá ser compreendido pela inteligência
humana. Entendem agora, o quão eficazmente queima este fogo?
O fogo queima tão eficazmente, -
ó minha alma! – que, de acordo com os grandes mestres da escola ascética, se
uma simples faísca caísse numa pedra de moinho, esta, se reduziria num instante
em pó. Se caísse numa bola de bronze, esta, se derreteria instantaneamente como
se fosse de cera. Se caísse sobre um lago congelado, este haveria de ferver no
mesmo instante.
Façamos uma breve pausa, ó alma
minha, para que tu respondas a algumas perguntas que te farei. Primeiro, te
pergunto: Se um forno especial fosse acesso, como usualmente se faz para
atormentar os mártires, e, então, alguns homens colocassem diante de ti todo
tipo de bens que o coração humano possa desejar, e garantissem a oferta de um
reino próspero – se tudo isso te fosse prometido em troca de que entrasses, só
por meia hora, no forno ardente, o que escolherias fazer?
Nem por cem reinos!
“Ah! – dirias – “se me
oferecesses cem reinos, eu nunca seria tão idiota em aceitar tais extremos tão
brutais, não importa quantas coisas importantes me oferecessem, mesmo que
estivesse segura de que Deus iria preservar a minha vida durante esses momentos
de sofrimento.”
Em segundo lugar, eu te pergunto:
Se tu já estivesses na posse de um grande reino, e estivesses nadando num mar
de riqueza, de maneira que não precisarias de nada, e fosses atacada por um
inimigo, feita prisioneira e acorrentada, se fosses obrigada a escolher entre
perder o teu reino ou passar meia hora dentro de um forno incandescente, o que
escolherias? “Ah! – dirias – prefiro passar toda a minha vida na pobreza
extrema e submeter-me a qualquer injúria e infelicidade do que sofrer tão
grande tormento!”
Uma prisão de fogo
eterno
Neste instante, dirige os teus
pensamentos daquilo que é temporal para o que é eterno.
Para fugir do tormento de um
forno ardente, que duraria somente meia hora, tu sacrificarias qualquer
propriedade, principalmente as coisas que mais te satisfazem, e estarias
disposto a sofrer qualquer outro dano temporal, não importando quão trabalhoso
pudesse ser. Então, por que não pensas da mesma maneira quando discutes sobre
os tormentos eternos?
Deus não te ameaça com meia hora
de suplício dentro do forno ardente, mas, pelo contrário, com uma prisão de
fogo eterno. Para escapar dela, não deverias renunciar a tudo o que está
proibido por Ele, não importando quão prazeroso possa ser, e abraçar alegremente
tudo quanto Ele ordena, mesmo que fosse extremamente desagradável?
O mais espantoso do inferno é a
sua duração. A pessoa condenada perde a Deus e o perde por toda a eternidade.
Aliás, o que é a eternidade? Ó alma minha, até agora nenhum anjo pode compreender
o que é a eternidade! Como então poderás tu compreende-la? Ainda assim, para
formarmos alguma ideia sobre ela, consideremos as seguintes verdades:
A eternidade nunca termina. Esta
é a verdade que tem feito tremer até os maiores santos. O juízo final virá o
mundo será destruído, a terra engolirá todos os condenados, e estes serão
lançados no inferno. Então, com sua mão todo-poderosa, Deus os encerrará para
sempre em tão amaldiçoada prisão.
Desde então, tantos milênios se
passaram como há folhas nas árvores e nas plantas de toda a terra, tantos
milhares de anos, como existem gotas de água em todos os mares e rios da terra,
tantos anos com existem átomos no ar, como existem grãos de areia em todas as
praias de todos os mares. Logo, depois de passarem todos estes incontáveis
anos, o que será a eternidade?
No entanto ela não será sequer
uma centésima parte dela, ou uma milésima – nada.
Então começará novamente e durará
tanto como antes, novamente, assim por diante, até que haja se repetido mil
vezes, e um bilhão de vezes, novamente. E logo depois de um período de tempo
tão longo, nem sequer terá passado a metade, nem sequer uma centésima parte ou
uma milésima parte, nem sequer uma parte da eternidade. Em todo este tempo não
haverá interrupção na queima dos condenados, começando tudo novamente.
Oh! que mistério profundo! Um
terror sobre todos os terrores! Oh! eternidade! Quem pode compreender-te?
Suponhamos que, no caso de
maldito Caim, chorando no inferno somente derramasse a cada mil anos uma única
lágrima. Agora, alma minha, guarde os teus pensamentos e leve em consideração
este fato: por seis mil anos, no mínimo, Caim tem estado no inferno e tem
derramado apenas seis lágrimas, que Deus milagrosamente lhe preservara.
Quantos anos levariam para que as
suas lágrimas cobrissem todos os vales da terra e inundassem todas as cidades,
povos e vilas e todas as montanhas até que inundasse toda a terra? Sabemos que
a distância entre a terra e o sol é de trinta e quatro milhões de léguas.
Quantos anos faltariam para que as lágrimas de Caim enchessem este imenso
espaço? Da terra ao céu estimamos que haja uma distância de cento e sessenta
milhões de léguas.
As lágrimas de Caim
Oh! Deus! Que quantidade de anos
teríamos que imaginar que seria necessário para encher de lágrimas este imenso
espaço? E ainda assim – Oh! Verdade incompreensível! – estejam seguros disto,
porque Deus não pode mentir – chegaria o tempo em que as lágrimas de Caim
seriam suficientes para inundar o mundo, para alcançar inclusive o sol, para
tocar o céu, e encher todo o espaço entre a terra e o mais alto do céu. Isso,
porém, não é tudo.
Se Deus secasse todas estas
lágrimas desde a última gota, e Caim começasse chorar outra vez, ele voltaria
outra vez a encher o espaço inteiro e o inundaria mil vezes e um milhão de
vezes em sucessão, ao longo de todos esses incontáveis anos, nem sequer haveria
passado a metade de eternidade, nem sequer uma fração. Depois de todo esse
tempo, ardendo no inferno, os sofrimentos de Caim estariam tão somente
começando.
A eternidade, neste caso, não tem
alívio. Seria de fato uma pequena consolação, de muito pouco benefício, para as
pessoas condenadas, se fossem capazes de receber um breve alento a cada mil
anos.
Felizmente aqui, no caso de Caim,
o Santo está errado, porque Caim está salvo.
Dirão vocês que fiquei maluco,
mas não, aos que duvidam a eternidade depois comprovará. Em verdade, Deus foi
bom com Caim, porque ao marcá-lo para que ninguém o matasse, permitiu que ele
passasse todo seu Purgatório de sofrimento aqui, e certamente foi um dos mais
longos e dolorosos, porque naquele tempo as pessoas viviam séculos. Quem sabe,
se alguém o tivesse morto antes de expiar sua falta, ele tivesse se perdido.
Sim, porque o crime dele foi gravíssimo, devido ao fato de que desde menino ele
via Deus e se sentava no colo Dele. Sua maior revolta contra Deus era a
existência da noite, pois queria que sempre fosse dia. Por outro lado, se todos
os assassinos se perdessem, o inferno estaria povoado deles. Eis porque Jesus
diz: não julgueis para não serdes condenados. (Aarão)
Imaginemos um lugar do inferno
onde haja três malvados. O primeiro está submergido num lago de fogo sulfúrico;
o segundo está preso numa grande pedra e está sendo atormentado por dois
demônios, um dos quais constantemente lhe lança chumbo derretido na sua
garganta, enquanto o outro lhe derrama sobre todo o seu corpo, cobrindo-lhe
desde a cabeça até os pés. O terceiro réprobo está sendo torturado por duas
cobras, uma das quais o envolve com seu corpo e o morde cruelmente, enquanto
que outra entra no seu corpo e ataca o seu coração. Suponhamos que Deus se
apiede dele e lhe conceda um curto respiro.
O primeiro homem, depois de haver
passado mil anos, é removido do lago e ele recebe o conforto de tomar água
fria, e, depois de passar uma hora, ele é novamente jogado no lago. O segundo,
depois de mil anos de tormento, é removido de seu lugar e lhe é permitido
descansar, mas logo depois de uma hora é jogando novamente no mesmo tormento. O
terceiro, depois de mil anos se vê livre das cobras; porém, após uma hora de
alívio, novamente é estuprado e atormentado por elas. Ah! Quão limitada seria
esta consolação – sofrer por mil anos para descansar somente por uma hora!
Aliás, o inferno nem sequer tem
esta consolação. Todos se queimam sempre nessas chamas assustadoras e nunca
recebem nenhum alívio em toda a eternidade. O condenado é corroído e ferido
pelo remorso, e nunca terá um descanso em toda a eternidade. Sempre sofrerá uma
sede muito abrasadora e nunca receberá o frescor de um pouco de água em toda a
eternidade. Sempre se contemplará detestado por Deus e nunca poderá receber a
alegria de uma simples olhada de ternura de Deus por toda a eternidade. O
condenado se sentirá sempre maldito pelo céu e pelo inferno, e nunca receberá
um simples gesto de amizade.
É uma das desgraças essenciais do
inferno que todo o tormento será sem consolo, sem remédio, sem interrupção, sem
final, eterno.
Vejam, se Deus depois daquele
castigo de mil anos, concedesse a cada um dos condenados, almas ou demônios,
esta hora de descanso, onde eles pudessem meditar e se arrepender, acreditem,
nenhum dos condenados voltaria plenamente arrependido. É isso que prova a
imensa perfeição da Justiça Divina (Aarão).
A bondade de sua
misericórdia
Agora eu compreendo em parte, ó
meu Deus, o que é o inferno. É um lugar de tormentos excessivos, de
desesperança extrema. É o lugar onde mereço estar por causa dos meus pecados,
onde eu estaria desterrado por alguns anos, se a tua imensa misericórdia não me
tivesse libertado. Repetirei mil vezes: O Coração de Jesus me tem amado, ou, do
contrário, agora eu estaria no inferno! O Sangue de Jesus me tem reconciliando
com o Pai Celestial, ou minha morada seria o inferno. Este é o cântico que eu
quisera cantar a Ti, meu Deus, por toda a eternidade. Sim, de agora em diante,
minha intenção é repetir estas palavras tantas vezes como os momentos se sucedem
desde aquela maldita hora em que te ofendi pela primeira vez.
Qual tem sido a minha gratidão
para com Deus pela bondosa misericórdia que Ele me tem mostrado? Ele me livrou
do inferno. Oh! Imenso amor! Oh! Infinita bondade!
Depois de um benefício tão
grande, não deveria eu lhe dar todo o meu coração e amá-lo com o amor do mais
inflamante serafim? Não deveria eu dirigir todas as minhas ações até Ele e, em
cada coisa, buscar somente contentar a vontade divina, aceitando todas as
contradições com alegria, de maneira que possa lhe devolver o meu amor?
Poderia fazer alguma coisa menor
do que isso depois de uma bondade tão grande! Oh! Ingratidão, merecedora de
outro inferno! Deixar-te-ei de lado, Deus meu!
Resistirei à tua misericórdia,
cometendo novos pecados e ofensas. Sei que tenho feito o mal, ó meu Deus, e me
arrependo de todo o meu coração. Ah! se pudesse derramar um mar de lágrimas por
tão ofensiva ingratidão! Ó Jesus, tem misericórdia de mim, visto que agora
decidi melhor: sofrer mil mortes do que ofender-te novamente. (Fim)
Temos assim mais uma visão de
santo da nossa Igreja, que certamente teve da parte de Deus a graça da visão do
inferno, para poder relatá-la com tanta clareza. Os maus dirão que o inferno
não existe e se existe é crueldade de Deus. Alguns se irão assustar com o
tamanho da pena, mas ela é conforme a justiça. Se o infinito prazer do Céu está
reservado aos justos e aos convertidos, devemos saber que para equilíbrio é
preciso que exista a Justiça infinita destinada aos rebeldes.
Devemos dizer, com toda certeza,
que ganhar o inferno como castigo eterno, é fruto de um ato consciente de
rebeldia contra Deus, uma rebeldia teimosa e obstinada no mal, algo que repugna
até pensar, que uma simples criatura humana possa se auto impregnar de tanta
teimosia. Não é verdade que alguém possa cair no inferno por culpa de satanás:
·
a perda se dá por exclusiva culpa da alma! Ela
se perde por causa da liberdade que tem, e fazendo mau uso dela vive a fornicar
com a serpente.
·
Enfim, não se assuste: o inferno é para os maus!
Dificilmente algum deles irá ler este texto, porque acha a existência do
inferno uma bobagem da Igreja e uma invenção dos padres. Mas que isso sirva
para você, que leu todo este texto, rezar por aqueles que jogam junto com a
serpente, para que não sigam até o dia do julgamento teimando nesta obstinação.
Se você tem um destes em sua família, reze por ele. E Deus nunca o abandonará!
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